quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Moda Inviolada: uma história da música caipira


O livro que publiquei em 2006 com minha pesquisa sobre como a música caipira se transformou na música "sertaneja" ainda está disponível e pode ser adquirido no site da Quiron Livros, que pode ser acessado neste link. Abraços carapinheiros!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mixórdia, o retorno

Lançado em dezembro passado, o livro Mixórdia no picadeiro - O circo-teatro em São Paulo (1930-1970), publicado pela Editora Terceira Margem e que resultou da minha pesquisa de doutorado, viveu dia de glória neste 2 de agosto. Primeiro mereceu matéria no Boletim Fapesp, que financiou a publicação, e depois foi parar no conceituado bem visitado Blog do Nassif. Satisfação imensa em vê-lo com vida própria para divulgar o esforço de pesquisa para incluir o circo-teatro na formação cultural de São Paulo, algo que até então nenhum pesquisador havia se arriscado a fazer. Fico feliz por conseguir ter dado essa contribuição. Para acessar as publicações, clique nos seus nomes.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Victor e Leo: em busca da essência perdida

Antes de iniciar o post, justifico a ausência de quase um mês no blog: puro excesso de trabalho. Aproveito, então para avisar que as postagens continuarão inconstantes em função da conclusão da minha pesquisa sobre o palhaço Piolin, objeto de meu pós-doutorado pela ECA/USP. Mas, vamos à reflexão, que nasce da seguinte entrevista da dupla Victor e Leo, representantes hoje do subgênero sertanejo universitário, publicada no blog "Sertanejo", de Marília Neves:

Victor: A palavra sertanejo tem que vir do sertão. Se ela não vier do sertão de alguma maneira, ela é um engano de quem está achando que aquilo é sertanejo. Isso é nossa opinião. Tem um monte de coisa aí dita como sertaneja, que de sertanejo não tem absolutamente nada, nem o cabo da vassoura. A música sertaneja passou por diversas modificações, mas não perdeu sua essência. Se eu citar, dentro do nosso repertório, canções como “Deus e eu no sertão”, “Rios de amor”, “Noite estrelada”, “Vida boa”, essas canções falam do sertão de uma maneira mais nova, entendível para as novas gerações, mas elas continuam lá, falando do velho fogão a lenha. De um tempo para cá, a palavra sertanejo veio perdendo seu sentido completamente. Eu respeito tudo, respeito até a falta de idealismo, mas não vou me misturar a ele e não vou ser conivente a isso.
Leo: Às vezes o cara nunca soube o que é música sertaneja, mas ele está falando que é sertanejo porque o gênero está em alta. Por um outro lado, todos os artistas que conquistaram um público fora do Brasil, é mérito do cara. A gente respeita e não se vê fora disso de uma forma incomodada. Se algum dia, a gente estiver lá, acho ótimo. Também não vou ser hipócrita e dizer que não quero meu nome citado na Billboard, pelo amor de Deus. Quero crescer o quanto eu consiga, acho que faço meu trabalho pra isso, pra alcançar, atingir mais pessoas, pra crescer. A gente respeita tudo, embora a gente não classifique todo mundo como sertanejo.

É interessante constatar que a despeito das modificações decorrentes da lógica de mercado da indústria fonográfica e de entretenimento, sempre agregando influências musicais externas, permaneça ainda o caráter mais agregador de uma manifestação cultural, que é o da identidade. Sim, pois ao requerer o sertão como "essência" da música que começou caipira, Victor e Leo recorrem a essa identidade. Nesse sentido, Renato Teixeira está mais coerente do que nunca ao dizer recentemente que não há diferença alguma entre a música caipira e a música sertaneja a não ser o momento histórico, que agrega o avanço tecnológico e socioeconômico. Muito bom saber que não se perdeu ainda a essência do nosso velho caipira.

terça-feira, 3 de julho de 2012

A peleja do violeiro Chico Bento com o rabequeiro Zé Lelé

A Peleja do Violeiro Chico Bento com o Rabequeiro Ze Lele

Demorô! Mas aconteceu... e na varanda do cumpadre Seu Juca Barnabé! O confronto desperta a curiosidade da vizinhança... E Chico Bento risca, logo de saída:

"Pois eu tenho uma viola
Batizada de Luzia.
Ela é feita de pinheiro
Que eu comprei na serraria."

Ao que Zé Lelé responde:


"Ai, eu tenho uma rabeca
Que se chama Serafina.
Ele é feita de pau nobre,
Quase nunca desafina."

O confronto do século - deste, não do passado - acontece nas páginas do livro "A peleja do violeiro Chico Bento com o rabequeiro Zé Lelé", em que os personagens de Maurício de Sousa cantam versos de cordel de Fábio Sombra, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, numa genial iniciativa que tem, entre outras motivações, levar às novíssimas gerações o som e a histórias desses instrumentos que se tropicalizaram ainda no período colonial. Sim, ouvir também, pois o livro é acompanhado por um CD em que a história é contada por nada menos que Almir Sater. A publicação é da editora Melhoramentos. Só uma amostrinha da brincadeira, nesse Book Trailer (Que chique! Notem a mistura de elementos gráficos do quadrinho com os da literatura de cordel...):


Ah!, a dica veio do violeiro Cláudio Lacerda! Abraço, Claudião!


sexta-feira, 29 de junho de 2012

O adeus do Circo Piolin

No início de 1962 o Circo Piolin, que estava "solidamente armado" na avenida General Olímpio da Silveira, na Barra Funda, desde 1949, portanto há 12 anos, foi despejado do terreno que pertencia ao antigo IAPC, instituto de previdência. O terreno permaneceu vazio por décadas e Piolin amargou uma aposentadoria prévia inesperada. Jamais se recuperou da perda. Mesmo quando, em 1972, Pietro Maria Bardi o chamou para montar seu circo no vão do MASP, nas comemorações dos 50 anos da Semana de Arte Moderna, e foi novamente reverenciado pelo público, pelos intelectuais e pela classe artística, nas entrevistas que deu não escondeu sua amargura. Vivia, então, no trailer que fora seu, deslocado para um terreno vazio da rua Cajati, na Freguesia do Ó. Neste registro, o circo sendo desmontado e Piolin, triste, falando ao repórter da TV Tupi, embora só tenha restado a imagem.


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Dércio Marques, ca (n) tador de cultura popular


Duas características destacam Dércio Marques do panorama musical brasileiro: seu apetite de pesquisador e a disposição em incluir no universo popular a musicalidade latina. A primeira delas fez com que fosse responsável por um grande levantamento da cultura musical popular. A segunda foi herança do pai uruguaio. Gravou seu primeiro disco em 1977 pelo mitológico selo Marcus Pereira e teve ainda o mérito de lançar nada menos do que o menestrel baiano Elomar, do qual gravou no disco de estreia Terra, vento, caminho, a canção As curvas do rio. A primeira vez que o ouvi tocar e cantar foi interpretando outra de Elomar, Peão na amarração, no final dos 1970, e foi talvez a primeira vez que entendi as possibilidades musicais da música popular de fato, não a chamada MPB. Isso porque conseguia trazer a tradição da música caipira, do interior. Mineiro, foi louvado por toda uma nova geração de violeiros das geraes, entre eles Pereira da Viola. Nos videos, a homenagem a quem se foi na última terça. O primeiro, uma participação no Sr. Brasil, de Rolando Boldrin, cantando Beira-mar, folclore do Vale do Jequitinhonha. O segundo, uma apresentação de gala, uma leitura erudita de Disco voador, de Palmeira e Biá. Em ambos, a voz inconfundível que fará muita falta.



Censura no picadeiro


Entre os anos de 1930 e 1970, enquanto vigorou a censura teatral estadual em São Paulo - a partir de 1968 ela se tornou federal - todo espetáculo produzido deveria submeter ao Departamento de Diversões Públicas (DDP) o texto teatral, que passava pelo crivo de um censor, que tinha a prerrogativa de cortar palavras, proibir termos, eliminar personagens, vetar diálogos inteiros ou mesmo proibir a peça de ser encenada. Nesse período todo gênero teatral teve de passar por esse rito, que não se restringia à análise do texto: envolvia também a encenação da peça para o censor, que mantinha as mesmas prerrogativas. O Teatro de revista, as encenações amadoras e o teatro profissional sofreram com essas intervenções. E o circo-teatro, por mais ingênuo que possa permanecer na memória daqueles que viveram seu período áureo, que riram e choraram sob uma lona de circo vendo essas encenações, também foi censurado. O Arquivo Miroel Silveira, da ECA/USP, que mantém os processos de censura do antigo DDP, guarda dez peças que foram vetadas em diversos períodos. Algumas delas clássicos do repertório de circo-teatro, o que torna incompreensível a lógica da censura. A seguir, as peças e a motivação dos vetos:

1. As duas Angélicas (Abelardo Pinto Piolin) - O clássico de Piolin incomodou por tratar das amantes de um tenente... Detalhe: amante foi a palavra mais censurada no período coberto pelo arquivo.
2. A ladra (Silvino Lopes) - Por ser um atentado à família brasileira...
3. Lampião, o rei do cangaço (Paulo Bonetti) - Segundo o censor, por fazer "apologia ao crime" e por ter "cenas de ferocidade".
4. João, o corta-mar (João Cândido de Oliveira) - Obrigatória no repertório de todo circo, a peça desagradou em 1943 por conter cena de suicídio e homicídio.
5. Nos degraus da perdição (Horácio Mello e Nacy Togneli Mello) - A fala inicial do vilão da história em relação à mocinha tirou o discernimento do censor. Ele diz ter "saciado o desejo de possuir o corpo" da moça.
6. Deixa correr o marfim (Armando Braga) - O censor acusou o texto de ser plágio da peça portuguesa O tio padre. Em se tratando de circo-teatro, falar em plágio é algo bem estranho, pois a adaptação de textos, arranjos, translados, etc. é comum entre os circenses.
7. Gaspar, o serralheiro (Baptista Machado) - Drama operário em pleno Estado Novo: não daria certo mesmo...
8. E o céu uniu duas almas... (Helen Fantucci de Mello) - Essa sim uma cópia do clássico E o céu uniu dois corações..., de Antenor Pimenta. Mas foi proibida porque os atores usavam uniforme da Aeronáutica...
9. Defesa passiva (Agenor Gomes) - Foi aprovada com cortes, mas o serviço de Defesa passiva, ao ver o anúncio do jornal da estreia da peça, pediu o veto. Eram tempos de guerra...
10. Revelação fatal (Agenor Gomes) - O pobre Paraguaté, apelido do autor, amargou novo veto, agora acusado de usar temas fortes como adultérios, abortos e misérias morais.