quinta-feira, 1 de março de 2012

O palhaço Piolin era modernista?


Com a proximidade do aniversário de Abelardo Pinto Piolin, em 27 de março próximo, aproveito o ensejo para suscitar uma antiga questão que sempre acomete os pesquisadores: Piolin era modernista? Não vamos esquecer que em 1972 o diretor do Museu de Arte de São Paulo (MASP), Pietro Maria Bardi, o convidou para montar seu circo sob o vão do museu como parte das comemorações dos cinquenta anos da Semana de Arte Moderna de 22. Que ele foi amigo dos intelectuais modernistas, todos sabem, em especial de Oswald de Andrade, que teve a oportunidade de homenageá-lo diversas vezes em seus livros, desde o Serafim Ponte Grande até na peça O rei da vela. Mas há algumas questões a serem lembradas: os modernistas conheceram Piolin somente em 1927, ou seja, cinco anos depois da semana que deu início ao movimento liderado por Mário e Oswald. Aliás, quem o descobriu nem foram os brasileiros, mas Blaise Cendrars, o poeta suíço que por aqui bordejava a convite dos intelectuais da semana. Depois os mesmos fizeram o famoso Banquete Antropofágico em 1929, no salão de chá do Mappin Stores, antigo casarão de Antonio Prado, na Praça do Patriarca. Aí o movimento já havia se ramificado entre a esquerda (Oswald) e a direita (Plínio Salgado), enquanto o circo e o palhaço serviam de referência daquilo que era o "genuinamente brasileiro". Ou seja, modernista foi quem isso enxergou. O próprio Piolin manteve simplesmente a tradição circense, representando suas antigas entradas e suas então recentes farsas, obra que se tornou constante até 1961, quando, aliás, boa parte dos modernistas já nem mais vivos estavam. Ele foi, portanto, apropriado pela intelectualidade. E com ela também se divertiu. Conta seu último empresário, Francisco Honório Rodrigues, que emprestava o circo para os intelectuais se reunirem. E estes discutiam, bebiam, fumavam no picadeiro do Circo até a madrugada. Não há, portanto, qualquer referência ao circo e muito menos a Piolin durante a semana. Depois, sim, na revista Terra Roxa e Outras Terras, que por muito tempo foi o principal veículo de ideias dos modernistas, ele esteve presente em artigos de Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Ian de Almeida Prado, Alcântara Machado, etc. Na foto, diante do circo, Piolin com Oswald.

Nenhum comentário: