sexta-feira, 2 de março de 2012

Mário de Andrade compôs "Viola quebrada"?

Seguindo a linha dos enigmas do Modernismo, segue mais um. A autoria de Viola quebrada, gravada e regravada por várias violeiros e duplas, inclusive Rolando Boldrin, que segue abaixo, atribuída ao escritor Mário de Andrade, foi sua única composição autoral? A professora Flávia Camargo Toni, do Instituto de Estudos Brasileiros, que guarda a herança cultural do modernista, ao analisar sua correspondência, revelou o processo autoral, embora o próprio autor não o tivesse levado a sério. Segundo carta enviada ao poeta Manuel Bandeira, presume-se que teria sido composta em 1926, ano em que Heitor Villa-Lobos a harmonizou. Como escreve Mário em 7 de setembro daquele ano: "Sobre a Maroca... [como a moda também era conhecida] Você quer escutar uma confidência só mesmo pra você? Pois isso é o pasticho mais indecentemente plagiado que tem. No que aliás não tenho a culpa porque toda a gente sabe que não sou compositor. A Maroca foi friamente feita assim: peguei o ritmo melódico de Cabocla do Caxangá e mudei as notas por brincadeira me vestindo. Tenho muito costume de sobre um modelo rítmico qualquer inventar sons diferentes pra me dar uma ocupação sonora quando me visto. Assim saiu a Maroca que por acaso saindo bonita registrei e fiz versos pra. Só o refrão não é pastichado da rítmica melódica da obra de Catulo [da paixão Cearense, também compositor de Luar do sertão]. E a linha que inventei tem dois dos tais torneios melódicos que especifiquei na Bucólica, coisa que, aliás, só verifiquei agora, pois nunca tinha ainda matutado nisso. Aliás, o refrão não tem nada de propriamente brasileiro com aquele tremido sentimental..." Pois foi assim que Viola quebrada veio à luz, depois harmonizada pelo maestro, editada em Paris e devidamente incluída no cancioneiro popular brasileiro. Caboca di Caxangá, o nome correto da embolada citada por Mário, é de Catulo e João Pernambuco, o pedreiro das mãos calejadas que se transmutavam nos braços do violão.



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