sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Tião do Carro: a sabedoria da simplicidade

"Hoje qualquer, eu vou falar assim, violeiro de buteco... o fulano ali canta também... Cantar é uma coisa divina que Deus dá, tudo bem, todo mundo tem que ter alegria pelas irradiações dos deuses da alegria, dos caboclo cantador, né isso? Mas o cantar mesmo é diferente do que muita gente pensa por aí que tá cantando. Iguala muitas coisas se desigualando outras. Concorda?"

O falar manso, meio mineiro e meio paulista, mas sempre caipira, leva o ouvinte a divagações um tanto descompassadas com o ritmo da cidade que corre lá fora. Tião do Carro tinha esse dom de filosofar a partir de sua fala simples e cativante. Entrevistei-o lá pelos 2000, enquanto fazia a pesquisa para o livro Moda Inviolada, em sua casa, na zona Norte, em São Paulo. Usa de uma docilidade atávica até mesmo na hora de analisar e criticar o movimento musical atual:

"Então o poeta hoje em dia existe, quem faz uma letra mesmo aí com valor de rima, rima dobrada, rima trançada, ela passa despercebida. Hoje em dia a turma quer pular e marcar o refrãozinho, e só, e meio versinho e tá acabado. O sucesso também é assim, passageiro que nem um colibri, acho que ainda...eu ainda continuo, vendo minhas modas, eu canto qualquer estilo de canção que me agradar, mas eu acho que quando a obra é bem feita ela tem que ser admirada, não é isso?"

João Benedito Urbano, o Tião do Carro, nos deixou há dois anos. Sua simplicidade permanece, pois é a do caipira que, se deixou de ser um tipo histórico, continua como tipo filosófico.

"Uma coisa é o arroz e o feijão bem temperado, você não quer nem que frita ovo, que frita carne. Não, deixa aqui que está bom demais! Vou comer esse trem do jeito que tá aqui. Assim que é o gosto do caipira. Quem às vezes não gosta e finge que não gosta... mas gosta sim!" 

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