segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Sobre a graça e sobre o stand up

Revendo as entradas de Bacalhau, Romiseta, Condorito e Corchito e de Reco Reco, encenadas no Projeto Entre risos e lágrimas, percebo o quanto é notável a capacidade de todos eles lidarem com maestria com os imprevistos em situações que, na leitura que fazem, acabam virando execelentes oportunidades de fazer mais humor do que o esperado. É o típico humor de circo. Funcionaria em outro meio? Talvez. Penso, por exemplo, em Casseta & Planeta. Na década de 1980, gostava - e ria bastante - com as paródias escritas do Planeta Diário num tempo em que o humor político perdia terreno para a novidade, e que parecia se dedicar a desnudar não só o rei mas todas as instituições. Não foi esse humor que migrou para a televisão. Naquela época havia também um grupo de jornalistas de São Paulo que decidiu usar o mesmo subterfúgio no jornalismo: havia um repórter, Ernesto Varela, que tinha a cara de pau de perguntar a Paulo Maluf se ele era mesmo ladrão, desconcertando-o. Era um personagem de Marcelo Tas. Hoje o humor do seu programa, como acusou no ano passado a atriz cômica Vic Militello, se baseia no desrespeito, ou algo bem próximo a isso. Claro, ela se refere à forma como os repórteres ridicularizam profissionais e artistas sem levar em conta sua contribuição à própria televisão. Já o Pânico, que veio do rádio, usa como recurso de humor algo que eu e meu pai fazíamos também na década de 1980 quando íamos a festas de casamento: reconhecer famosos na fisionomia de anônimos... Brincadeira pueril que virou recurso de humor na TV... Por fim, há uma praga nacional chamada comédia stand up, importada de um país que não prima lá muito pelo humor, os Estados Unidos, e que usa temas os mais banais, típicos de uma conversa entre adolescentes que descobrem os lugares comuns da vida. Outro dia, um pesquisador de humor afirmou: "Todo esse humor do stand up já era feito na época do rádio". Ao que respondi: "E ainda faziam sentados!" Volto, enfim, a esses palhaços que, com mais de sessenta, setenta, oitenta anos, fazem um humor físico e verbal, usam objetos banais para provocar e fazer desatar o riso mais irracional de todos, sem se preocupar se irá soar "correto" ou "incorreto". Não para parecer subversivo, transgressor, mas porque esses parâmetros de fato não importam. Talvez, por isso mesmo, sejam de fato subversivos, como defende o bufão Leo Bassi (na foto). Um humor, enfim, que não almeja sofisticação. E, por isso, não depende de nada para arrancar o deleite da gargalhada.

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