Outro dia contei aqui no blog sobre a minha participação no Seminário de Viola de Guarulhos - obra do acaso dos acasos - e a descoberta do Teatro Padre Bento. Pois não é que o acaso me aprontou outra? Ontem, pesquisando no arquivo Multimeios, do Centro Cultural São Paulo, que guarda as pesquisas realizadas na década de 1970 pelo antigo Departamento de Informação e Documentação Artística (Idart), que por sua vez realizou importantes levantamentos sobre o circo em São Paulo, me deparei com a transcrição de uma entrevista com o Tonico (dupla de Tinoco) justamente sobre o circo-teatro. Realizada por diversos pesquisadores, mas especialmente por Maria Thereza Vargas, numa certa altura ela pergunta quando a dupla começou a escrever peças de circo-teatro, uma vez que se apresentava, cantando e tocando, em picadeiros desde 1945, e qual a peça inaugural. Reproduzo a resposta de Tinoco:
"A primeira que nóis escrevemo - aliás essa primeira não fui eu que escrevi, foi um amigo, até um artista de circo muito antigo, foi Chico Mineiro, não é? Então, foi o maior sucesso... Aí esse colega falou assim, então porque vocês não fazem uma assim, uma pecinha representando o Chico Mineiro, a morte do Chico Mineiro, o enredo, faz um ato, não é?, e faz o show. Quer dizer, é um show completo. Então, aí, naquele tempo, pegamo 20 mil réis, isso foi em 45. Pagamo 20 mil réis, ele escreveu e tal. Estreamo na... Aqui no padre... Aqui em Guarulho, onde é que tem aquele sanatório... Como é que chama aquele sanatório... Daqueles doentes?... Padre Bento!"
Bingo! O teatro foi construído justamente para levar shows e apresentações aos hansenianos internados no sanatório. Como depois Tonico foi incrementando a peça com novas cenas, a parceria foi divida. Depois, em 1950, a dupla fez a continuação da história, Chico Mineiro e sua vingança, assinando a história junto com o seu produtor e também dono de circo, Sertãozinho. Nessa altura já dominavam a cena do circo, fazendo shows e entretendo as plateias do interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
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