segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Elomar e as três coisas desse mundo vão


Monteno o mondengo. Esse termo me intrigou tanto que batizei com ele uma pretensa revista de arte e cultura que publiquei com amigos na época em que fazia faculdade, lá nos ermos de Mogi das Cruzes também nos ermos do tempo. Copiei-o de uma cantiga de Elomar, dito Figueira de Melo, mais especificamente do álbum duplo Na quadrada das águas perdidas. No glossário que vinha no encarte - ah, os tempos dos encartes dos LPs! - explicava-se que o termo vinha dantanho, de Portugal, onde há o rio Mondego. "Montar o mondengo" tinha relação com sigamos em frente, com valentia!, pois as cheias do rios assim obrigavam os aldeões. Quando estive em Coimbra para conhecer a universidade me surpreendi com a presença do dito cujo, ali, cortando a cidade: o Mondego. Bom, Elomar sempre surpreende pelas expressões que coleciona e emprega nas suas letras. Dono de um dos estilos mais originais da música brasileira, faz algo entre o cantador violeiro e o menestrel medieval. Baiano, desviou o eixo da influência ibérica na cultura brasileira que vinha de Recife (diretamente de Ariano Suassuna e o movimento Armorial), e despontou em disco e show a partir dos 1970. Mas sempre fugiu dos holofotes, se resguardando em sua fazenda, cantando para os bodes que cria, mantendo a tradição dos avós. Toca violão, mas refaz afinações, e reforça a definição do violeiro como a personificação da "cigarra da fábula":

Apois pro cantadô i violero
Só hái treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhêro
Viola, furria, amô, dinhêro não

Enfim, algo que destoa desse mundo cada vez mais vão e cada vez mais dependente daquilo que o "violero" se desprende. Um bom mote, enfim, para começar a semana...

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