segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sacy com y

Olha ele de novo! E mais metido a besta ainda! Agora é sacy, com y. Mas isso é coisa de tempos antigos. Lá para os 1917, quando Monteiro Lobato resolveu, para esquecer os dissabores causados pela carnificina da Primeira Guerra Mundial, fazer um inquérito, cujo resultado publicou no volume O Sacy-Pererê. Tratava-se de uma resposta aos francesismos que recheavam nossa Belle Époque, trazendo para a vila paulistana as manias européias que tanto encantavam os dândis enriquecidos com a cultura do café. Lobato recolheu depoimentos e testemunhos, muitos deles daqueles que diziam ter visto o sacy com os olhos que a terra há de comer. Entre esses testemunhos está o de Oliveira Filho, de Poá (SP), que o registrou em gravura, acompanhada da seguinte descrição:

Sacy-perereg - (Çaa Cy - olho mau; pérérég - saltitante). Preto. Nariz de socó, língua de palmo, "pincésinho" no queixo, barriga de maleiteiro, umbigo de chorão, uma perna só, rasto de criança, espora de galo velho que dá para empoleirar dois pintos. Quando trepa em barranco deixa três riscos, sinal de que tem três dedos. Mão furada, orelha de morcego, carapuça vermelha de cuia, com barbicacho de sedenho. Acompanha os cavaleiros em viagem por dentro do mato arrancando cipós. Quando vê gente assobia, põe a língua e "curisca". Deita fumaça pelos olhos.

A coleção de relatos começou no caderno Estadinho, de O Estado de S. Paulo. Àqueles que, sem ter melhor o que fazer, se ocuparam de acusar Lobato de racismo bem recentemente, incluo sua breve descrição inicial do tal ser arreliento e endiabrado:

Sofreu o influxo do africano, passando de caboclinho a molecote. Modificou-se por injunção da física portuguesa. O mestiço meteu nele muita coisa de seu. Acabará ainda sofrendo a influência do italiano, talvez... E dest'arte, sempre vivo, evoluindo sempre, o Sacy que povoou os sonhos da filharada de Tomé de Sousa chegou até nós; e apesar do automóvel (...), inda convive com as nossas crianças nas cidades, e com o sertanejo na roça.

Pois é. Olho atento que ele vive a traquinar mesmo por entre os que buscam eternamente o vil metal enquanto a bela vida passa...

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