segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O dom de ver e ouvir

Duas aulas na semana passada - ensinando é que se aprende, não é? - me trouxeram a reflexão do quanto estamos sendo intoxicados com imagens e sons. Na quarta, o convidado Ivan Vilela, violeiro de primorosa estirpe, suscita a reflexão sobre como estamos transformando a música num ruído do cotidiano. Ouve-se música em todo lugar, no elevador, no dentista, no restaurante, no camelô... Poucas vezes arrumamos tempo para "ouvir" música sem fragmentá-la. Leio também um post no blog do Nassif em que um colaborador suplica aos compositores e cantores (e cantoras) da cambaleante MPB que tomem jeito e sintam vergonha de usar tantos clichês nas suas letras e nas suas melodias, que voltem a criar histórias. Talvez esses clichês ajudem a tornar essa música o ruído cotidiano, pois facilitam a audição banal, sem reflexão. Na quinta, então, após a exibição do ótimo documentário Janela da alma, de João Jardim e Walter Carvalho, a sensação de que as imagens também estão nos saturando a alma, fica clara nos depoimentos de Wim Wenders - que, aliás, tem feito disso sua bandeira criativa nas duas últimas décadas, parecendo muitas vezes até bem ortodoxo com relação às imagens que devem de fato ser vistas pelo espectador - e de José Saramago. Culpa da Internet? Bom, deixemos, de cara, de procurarmos culpados do lado de fora. A atitude de ver e de ouvir, e de criar discernimento sobre o que vale a pena ver e ouvir, é só nossa. Senão, como surgiu na discussão em sala de aula, vamos acabar confundindo a parede da caverna em que as sombras se projetam com a luz que emana de fora da caverna, não é seu Platão?

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