terça-feira, 27 de setembro de 2011

Mexericos da rabeca


O título do post replica o nome do disco de José Eduardo Gramani, essencial tanto na pesquisa musical quanto na apresentação das diversas sonoridades deste instrumento rústico, primo artesanal do violino erudito, que abre mão da caixa de ressonância e aplica as cordas sobre a madeira maciça. No entanto o mais bonito é o gestual do rabequeiro - como o foi Zé Côco do Riachão, artesão autodidata e tocador esmerado, que pude ver no SESC Pompéia no final do século 20 - em que o instrumento desce do ombro e do queixo para o antebraço, pois o instrumentista precisa tocar e andar, especialmente se estiver numa procissão ou numa folia. Gramani foi professor na Universidade de Campinas, com formação erudita e apreciador da sonoridade rascante da rabeca. Iniciou, com apoio da Fapesp, em 1995, a pesquisa Rabeca, o som inesperado, mas não viveu o suficiente para concluí-la, ficando a tarefa para sua filha Daniela, que a publicou em livro em 2000 (que pode ser adquido no mesmo link), com o apoio de Ana Salvagni. Na pesquisa, Gramani documentou o trabalho de quatro rabequeiros (fazedores e tocadores): Martinho dos Santos, de Morretes (PR); Julio Pereira, de Paranaguá (PR); Arão Barbosa, de Iguape (SP) e Nelson da Rabeca, de Marechal Deodoro (AL). Gramani ainda deixou seu legado no CD Mexericos da rabeca, de 1997, que tem dobrado, seresta, modinha, forró, calango. A rabeca, por sua vez, nos chegou também na bagagem lusitana, talvez no matulão dos jesuítas, depois de viajar do Oriente Médio para Portugal nos séculos de ocupação moura. O pesquisador Luiz Henrique Fiaminghi, que também participa do livro editado por Daniela Gramani, mantém o ótimo site bem completo sobre a rabeca. Vale uma passeada por lá!

Nenhum comentário: