terça-feira, 13 de setembro de 2011

Farofa de bundinha de içá (com receita)

Dias desses, em visita a familiares da minha esposa no Guarujá, um grupo me chamou e me ofereceu uma iguaria que não via desde a infância: farofa de bundinha de içá. Queriam me assustar, mas saíram admirados, pois eu não só conhecia, como comi! Tradicional na culinária caipira, o prato é a conclusão de um tradicional ritual de infância: a caça ao içá. Final de tarde quente, após um chuvinha rápida e a nuvem de içás se lança ao chão, com as formigas prontas para cavarem e abandonarem a vida aérea para se dedicarem ao ventre escuro da terra, onde irão gerar milhares de ovos e, dali, fazer surgir um novo formigueiro. A caça se dá munido de um saco e muita astúcia, pois se deve juntar o maior número de formigas possíveis antes dos vários concorrentes que querem também desfrutar da farofa pronta. O costume vem dos índios e gente graúda também se revelou fã do prato, entre eles Monteiro Lobato e Maurício de Sousa. Este último conta que caçava diretamente no formigueiro - não esperava a revoada mágica - e para isso desenvolveu uma sofisticada técnica, descrita no site da Turma da Mônica: jogava uma bacia em cima do formigueiro, enchia-a de água e pulava dentro dessa "trincheira" onde evitava as ferroadas das formigas. Aí apanhava os içás, sempre pegando-os pelas asas. Não cheguei a tanto, o que faz me sentir um caçador "amador" de içás. Sou da mesma região de Maurício, que é de Santa Isabel, enquanto nasci e cresci em Mogi das Cruzes, cidade em que o quadrinista também viveu por vários anos. Bom, ao que interessa: como fazer. Munido de um bom punhado de içás, retire a metade de cima, com as pernas e a cabeça (embora a última farofa que comi tenha sido com os içás inteiros, a melhor parte é mesmo a de baixo...). Frite as bundinhas em gordura quente na frigideira, até que fiquem torradas. Mas cuidado para não deixar queimar. Acrescente a farinha de mandioca e o sal. Pronto. Pode ser degustada acompanhada de café ou de cerveja gelada (essa última opção não é a tradicional, é sugestão minha mesmo)! Só para concluir: como caipira, conheço a fêmea da saúva por içá. Mas muitos a chamam de tanajura.

Um comentário:

Anônimo disse...

Passei por isso no interior de Pernambuco.
Me ofereceram "bundinha de tanajura" frita acompanhada de uma boa dose de Pitu, só para ver a cara de susto do paulista.
Eita! Sô caipira de Rio Claro, moço! Dá cá minha parte dos iças!!!
Iguaria!

Pp