quinta-feira, 15 de setembro de 2011

As entradas mudas de Reco Reco e Maskarito

Os palhaços que atuaram em grandes circos demonstram um estilo diferenciado de apresentar suas entradas, optando por uma apresentração que prescinde do diálogo e da própria fala. Dentro de um grande picadeiro a distância do público é maior e falar para arquibancadas repletas passa a ser impraticável. Sim, há microfones - cada vez mais micros - mas isso, na opinião dos palhaços, descaracteriza a encenação. Reco Reco (ao lado), palhaço que atuou por 27 anos no Circo Garcia, onde dividiu o picadeiro nos anos finais da companhia de Carola Boets com Maskarito (abaixo), se apresentou no Projeto "Entre risos e lágrimas - O teatro no circo (da pantomima aos dramas)", de resgate da dramaturgia circense, uma parceria entre o Centro de Memória do Circo e o Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Censura (NPCC), da ECA/USP. Levaram três entradas clássicas - O repolho, A mágica dos dados e O boxe - com o diferencial de representá-las sem diálogos, somente com recursos sonoros (música e apitos). Reco Reco é, talvez, dos poucos palhaços cabeludos e não careca. Ambos, ele e Maskarito são nordestinos - o primeiro cearense e o segundo soteropolitano - inciou como ator cômico em Salvador e, ao se mudar para o Rio de Janeiro, acabou no circo. E, a despeito disso - em geral palhaços nordestinos abusam da pimenta também em suas piadas - fazem um tipo de humor ingênuo. Num dado momento, quando a entrevista que acontece após as entradas estava quase chegando à conclusão, Maskarito passa a refletir sobre a concepção das entradas circenses (aqui, um novo parênteses: Elias Thomé Salida, professor e autor do livro Raízes do riso, afirmou durante o Seminário Travessias 2011, que acontece na ECA/USP, que piada é como passarinho: é de quem pegar). Conta que, certa vez, dentro de um ônibus, ouvia a pregação de um pastor que, num determinado momento bradou:
- Vocês sabem quanto vale a alma de vocês para Jesus?
No mesmo instante, a porta se abriu e entrou um vendedor repetindo monocordicamente:
- Um real, um real, um real, um real...
Maskarito conlui:
- Isso é uma entrada! Queria eu ter criado isso no picadeiro!


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