Cabocla Tereza no circo

A dupla Torres e Florêncio consagrou as composições de João Pacífico (foto), entre elas Cabocla Tereza e Chico Mulato, ambas inscritas num gênero inédito criado pelo compositor de Cordeirópolis, o "falarrr e cantarrr", como definiu o diretor da gravadora Columbia, com seu carregado sotaque inglês. Pacífico foi ex-garçon do trem da Sorocabana, descoberto pelo poeta Guilherme de Almedia, que lhe deu o endereço para que procurasse Raul Torres. A parceria deu certo e logo rendeu canções de sucesso. A dupla Torres e Florêncio foi também pioneira em levar ao circo peças com temática caipira. Mais pioneira ainda por essas peças serem verdadeiros melodramas e não comédias, gênero em que o caipira sempre aparece como disseminador do riso no confronto com o cidadão urbano.
Uma dessas peças foi justamente Cabocla Tereza, adaptação da toada que conta, na introdução, a história de um passante que ouve dois tiros sendo disparados dentro de uma tapera, pára para ver e encontra a cena do crime, ouvindo do assassino ainda transtornado, que assume a narrativa, os motivos que o levaram a matar a amada. O "translado", como se diz no circo, foi feita pelo próprio João Pacífico, segue literalmente a história da toada. Descubro, no acervo do Centro de Memória do Circo, que a peça estreou em 1947 no Santana Circo, de Águeda François, quando instalado no bairro do Belenzinhjo, na capital paulista. Antes, Torres e Florêncio haviam se apresentado no tradicional Pavilhão François, com Pacífico a tiracolo, que sugeriu a encenação ao clã dos François. Águeda não só levou a peça para o seu circo como encarnou a própria Tereza, ao lado dos irmãos João e Norma, e da prima Nina. A mesma companhia ainda encenou a adaptação de Pingo d´água, toada que rendeu o único Disco de Ouro de Pacífico. A peça contou ainda com a presença de Elza François de Almeida.
Cabocla Tereza também ganhou versão cinematográfica em 1982, com Zélia Martins no papel principal e Sebastião Pereira e Jofre Soares no elenco.