sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pra mode comê carne de boi

Um dia Nhô Quim acordou e decidiu sair pelo mundo atrás daquilo que se tornou seu Santo Graal: carne de boi. Colocou o pé no mundo e partiu rumo às paragens onde vivia Nhá Tomasa. Antes, porém, topou com o curupira, safou-se dele, levou um Santo Antonio na cabeça, encontrou a família de Sá Carula, a dona do santo e devota torturadora do mesmo, e, enfim, chegou no seu destino. Não encontrou carne de boi, mas até que se encantou com Sá Carula que, para casar, inventou que o pai dispunha de uma rês que seria sacrificada no tal dia do enlace. A história é carismática e seria somente mais um filme com temática caipira não tivesse se baseado em literatura bem ligada ao mesmo: Os parceiros do Rio Bonito, de Antonio Candido, aqui comentado outro dia, e As estrambóticas aventuras de Joaquim Bentinho, o Queima-campo, de Cornélio Pires. Parceria inusitada que fez de A marvada carne, filme de André Klotzel, que estreou em 1986, uma das mais bem acabadas fitas sobre a cultura caipira. De quebra, há uma aula de como se construir uma casa de pau-a-pique, um belo passeio pelo universo sobrenatural roceiro, o deleite sonoro do linguajar arcaico do caipira, Tonico e Tinoco cantando moda de viola para os atores dançarem catira e os desempenhos inesquecíveis de Adilson Barros (Nho Quim), Fernanda Torres (aos 16 anos, como Sá Carula), Dionísio Azevedo,  Geny Prado (eterna mulher do Jeca nos filmes de Mazzaropi), o saudoso Chiquinho Brandão e, inusitadamente, Regina Casé. Na trilha, Sonora Garoa, do violeiro suburbano Passoca (que ainda mora na borda da cidade, em Ribeirão Pires). Aliás, o final do filme é primoroso em assinalar a passagem do rural para a borda suburbana da metrópole, prova de que o Santo Graal pode, por vezes, levar ao inesperado, embora saciando a vontade de comer carne de boi! O filme, em partes, está disponível no You Tube. Aqui, brindo os leitores do blog com a cena em que Nhô Quim encontra e enfrenta o Curupira.

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