quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ainda as juras de fogueira


O apadrinhamento de fogueira sela uma amizade para a eternidade, ata laços de companheirismo para além dos laços de sangue: arde no coração pelo resto da vida. A recitação dos versos pode ser feita de maneira simples ou repetida por três vezes. Em certas regiões é preciso pular a fogueira três vezes, sempre invertendo a posição, em cruz. O pesquisador do folclore Alceu Maynard Araújo afirma que se trata de um ritual de origem pagã, com caráter de iniciação:

Não há apenas os compadres de fogueira, há tios, sobrinhos, pais e filhos de fogueira. Basta que um afeto  forte os aproxime para que no dia de São João, ao saltar a fogueira, façam antes um juramento e a seguir saltem em cruz três vêzes a fogueira. Desse momento em diante passam a tratar-se de acordo com o que o adrede ficou combinado. Ao saltar a fogueira revivem, sem saber, um ritual de origem celta. (Folclore nacional - Festas, bailados, mitos e lendas. Martins Fontes, São Paulo, 2004).

E o que para mim era uma novidade, se trata de uma instituição no Nordeste, o que me deixa envergonhado em descobri-la somente agora... Bom, também é tradicional a troca de juras de amor ante a fogueira e o exemplar mais marcante e popular dessa troca é o samba de Noel Rosa: "Nosso amor que não esqueço/e que teve seu começo/numa festa de São João..." Há também um uso bem peculiar desse compadrio joanino. Descubro uma narrativa de certa donzela que, cortejada por um animado varão - que por sinal pouco lhe interessava - resolveu a questão tornando-se afilhada de fogueira do moço. A amizade perdurou por toda a vida de ambos e o flerte foi esquecido. Afinal, padrinho não pode casar com afilhada...

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