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Hoje é dia de solstício de verão no hemisfério norte, obviamente que de inverno aqui. Aliás, é quando também começa o inverno nos trópicos - hoje, terça, começou exatamente às 14h16 - e bem próximo do dia de São João, que se comemora daqui a três dias. E, dois dias antes, feriado que emenda, para alegria do povo que adora festas, o dia do Corpo de Deus. Certamente há ligação entre o solstício e as fogueiras joaninas, reflexo dos cultos pagãos para celebrar o início da colheita e lograr novo renascimento da natureza. O costume era comemorar por dias o santo que nasceu pouco antes de Jesus, filho de Isabel, prima de Maria, e que se tornará o "Batista" ao lavar a alma do Salvador com a água do rio Jordão, derramada sobre sua cabeça. A fogueira pagã foi cristianizada pela Igreja, que popularizou a lenda de que Isabel teria feito acordo com Maria para sinalizar o nascimento de João e colocar-se à disposição para ajudá-la em seu parto. A colonização poprtuguesa trouxe o rito cristianizado e, com ele, a fogueira que ilumina a noite mais longa do ano. No entanto, uma das principais marcas dos festejos de João, a quadrilha, tem uma origem tardia. Desde o período da Regência, no Império, quando os compositores locais resolveram imitar as orquestras francesas, mantendo a marcação na língua original, claro, incorporando um sotaque próprio (anarriê, balanceio, etc.). Institui-se então o hábito da dança estilizada da quadrilha, com adaptações locais, entre elas a do caipira paulista e a do Nordeste. Mas nem só de quadrilha vive o São João paulista. Américo Pellegrini Filho, em seu
Folclore paulista, editado em 1985 (Cortez Editora, São Paulo), registra o samba-lenço (Mauá), o batuque (Barueri), o fandango (Sorocaba) e as danças caiçaras (Bertioga), na maior parte delas com a presença de Congadas. Há ainda práticas que parecem ecoar fortemente antigos rituais pagãos, como a caminhada sobre as brasas da fogueira, à meia noite do dia 23, como ocorria em 1985 em Capivari. A grande maioria, no entanto, prefere o ritual um pouco menos arriscado, que é o de pular a fogueira. Soube esses dias, por meio da minha mulher, que no Nordeste é comum a figura do "padrinho" de fogueira, que tem, inclusive, o mesmo peso de um padrinho de batismo! A quadra de batismo (resgatada por ela), recitada pelo padrinho e pelo apadrinhado no ritual do pula fogueira é assim: "São João dormiu/São Pedro acordou/Você vai ser meu padrinho/Que São João mandou". Para concluir, o que acabou de ser batizado diz: "A bênção minha madrinha/meu padrinho!", ao que este responde: "Deus te abençôe!"
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