quinta-feira, 26 de maio de 2011

A nobre arte da besteirologia

Revi Doutores da Alegria, o filme que Mara Mourão dirigiu em 2005. Assim como prescreve um receituário médio, ele deve ser administrado pelo menos uma vez a cada semestre, no mínimo. Não somente por mostrar o trabalho dos doutores nos hospitais, o que, por si já é motivo de sobra para assistir. Mas por revelar a real função de um palhaço. Como Wellington Nogueira, criador4 do grupo, alerta já no início da fita, o palhaço é um arquétipo muito forte, presente em todas as culturas, e que tem uma função pra lá de nobre, a de resgatar a alegria que gera vida, mesmo em momentos de risco e de vazio. Depoimentos, histórias, análises e ao final a sensação de que as picuinhas diárias são mesmo poderosas em nublar o real sentido da vida e das relações humanas. Como, aliás, afirma uma das doutoras: "Ele [o palhaço] é um provocador da pequenez humana..."
Nota-se isso quando Wellington, com seu palhaço arquetípico, visita locais públicos que exigem uma boa prescrição de alegria e essência humana: o supermercado, o restaurante por quilo, a Bolsa de Valores, a linha de produção, o escritório administrativo. A receita para transformar esses espaços é a mesma empregada pelos Doutores nos hospitais, nas visitas às crianças, muitas delas em estado terminal: a besteirologia. Trata-se do método para despertar a essência saudável. E para exercê-la, diz o mesmo Wellington no filme, é preciso ter uma boa dose de coragem. Coragem de expor as suas habilidades mais ridículas, as suas atitudes mais comesinhas, a sua frivolidade, a sua capacidade de fazer besteiras e, assim, resgatar a humanidade de cada um, em seu momento mais difícil.
Um filme fantástico, imprescindível e necessário. Pelo menos a cada semestre de vida.

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