Os Maracanãs foi um grupo de circo-teatro que atuou por anos nos picadeiros, palcos e carrocerias de caminhões, apresentando melodramas próprios, assinados por um de seus atores, nada menos que o compositor José Fortuna. Ao lado do irmão Pitangueira e de Zé do Fole, sanfoneiro que acompanhava a dupla nos shows de música, montou o grupo teatral após o sucesso de Índia, nas vozes de Cascatinha e Inhana, depois transformada em peça também encenada pela dupla nos circos. Conta Pitangueira, que tive a oportunidade de entrevistar para a pesquisa de doutorado:
Índia foi [a primeira peça]. Depois veio Meu primeiro amor e Solidão. O Zé escreveu Índia pro Cascatinha. O Cascatinha falou: “Escreve uma peça pra mim!” O Zé escreveu. Mas depois ele falou: “Escuta, gente, nós precisamos ganhar dinheiro também. Então ele leva, mas a gente leva também! Aí o que aconteceu? O Cascatinha não gostou que nós levássemos também... E outra coisa, ele não era ator. Cantava bem, mas como ia levar uma peça, não ia nem ensaiar uma peça... E nós pegamos, começamos a levar e ele nem levou. (...) Aí o Zé fez a primeira peça, escreveu Índia. Nós estreamos a peça na Vila Diva, lá perto da Vila Prudente. Circo do Chico Fumaça. 53. Deu uma casa boa. Casa boa era casa cheia. Chamava “casa”. Era um bocado de gente. Meu Deus... “Acho que é a peça. Acho que é a peça”. Claro que é a peça! Aí o Zé virou uma fábrica. Ele escreveu Meu primeiro amor, Solidão, que também era uma outra música do Cascatinha, no fim nós passamos a peça pra um nome mais forte, assim... Os valentes também amam...
Ao todo foram 42 peças, numa carreira iniciada em 1953 e encerrada em 1973, quando a Doença de Chagas abalou a saúde de Zé Fortuna, que faleceria dez anos depois. Nesse período compôs mais de 200 modas de viola que continuam inéditas, a não ser algumas gravadas por Paraíso, que se casou com uma das duas filhas do compositor, Iara. Zé Fortuna teve uma visão do negócio circo-teatro que poucas companhias circenses tiveram. Soube ajustar a carreira da dupla com as composições e a autoria das peças, usando o programa de rádio para divulgar tudo isso. Relembra Iara Fortuna:
Existia aqui em São Paulo um lugar que era o reduto dos donos de circo. Era aqui na São João, o meu pai tinha até um escritório em cima [Largo do Paissandu]. Então, lá os donos de circo vinham para marcar com as duplas. Os donos de circo viviam disso. Então já acertavam, tal dia, tal dupla... E o meu pai, como tinha o programa de rádio, ele já falava: “Lá, circo tal, Irmãos Castro em Paranavaí, tal dia estaremos aí com você!” Era tudo bilheteria, olha que loucura. Hoje em dia, os grandes artistas de nome não arriscam mais bilheteria. Ninguém é louco de arriscar bilheteria. No tempo do meu pai era tudo bilheteria. Não era contratado. Você se arriscava, saía daqui, ele tinha uma kombi, ia com todos os apetrechos, ia com a trupe toda.
Após a morte do pai, as filhas Iara e Marlene Fortuna produziram um espetáculo teatral com cenas das principais peças do pai encenadas nos circos. Aqui, Voz de criança, com a atuação de Pitangueira, o cartaz de hoje d'Os Maracanãs!
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