terça-feira, 26 de abril de 2011

Existe palhaça?

Um dos temas que surgiram nos encontros promovidos no final de 2010 no Centro de Memória do Circo, dentro do Projeto Entre risos e lágrimas: o teatro no circo (da pantomima aos dramas) - saiba mais na aba "Circo-teatro") foi se existe na tradição circense a figura da "palhaça", ou seja, o velho conhecido palhaço em pele feminina. O que sempre se evidenciou na tradição foi a figura do velho - careca, de bengala - e safado - como bem definiu Mário Bolognesi durante um dos encontros, ele é aquele que mesmo que tenha acabado de almoçar, se encontrar um prato de macarrão, irá comer de novo, pois está sempre no cio. Como tranferir essas características do palhaço excêntrico, em especial, para uma atriz/palhaça? Os velhos palhaços salientam justamente essa particularidade. Se alguém da plateia faz uma piada maliciosa, ele sai na hora com uma resposta mais maliciosa ainda. No entanto, as mulheres que participaram dos encontros e que faziam parte dos cursos da SP Escola de Teatro e dos Doutores da Alegria, garantiam que é possível, sim, se sair no mesmo nível de um palhaço masculino. E provaram isso nas releituras que fizeram no encontro final, onde encenaram as tradicionais entradas antes mostradas pelos mestres palhaços, afiando suas atuações. Há quem defenda, ainda, que palhaço é um substantivo comum de dois gêneros. Ou seja, pode ser tanto homem quanto mulher, não mudando a caracterização. Vic Militello, por exemplo, atriz cômica e filha de Humberto Militello, o palhaço Xororó, garante que viu a dona Arethuza Neves - dona do Circo Arethuza (1917 a 1960) - atuando como palhaça, exercendo o mesmo tipo tradicional desempenhado geralmente por homens. Aliás, se algum familiar puder confirmar isso e dar mais detalhes, poderíamos complementar essa informação. Enfim, parece que o fenômeno dos grupos teatrais que a partir das década de 1980 passaram a incorporar técnicas circenses, trouxe também uma releitura da figura que há 200 anos é o rei do picadeiro: o palhaço. Cabe agora às atrizes/palhaças responderem a contento o desafio de manter a picardia além dos preconceitos, garantindo o riso da plateia.

Em tempo...! - Desde 2003 existe a Associação de Mulheres Palhaças As Marias da Graça, criado pelo grupo homônimo (ou seria feminônimo?). São elas, aliás, que ilustram este post.