terça-feira, 1 de março de 2011

Alcebíades Pereira, clown de primeria

"Acompanhei-o até a porta. Apertei-lhe a mão com simpatia. Não. Não era o pintor, não era o negociante, não era o alto funcionário. Mas por aquela altura eu já sentia que aquele homem me era muito familiar. Mas de onde? Vi-o descer a escada pausadamente. E, lá do fundo, ainda me sorriu, acenando as mãos brancas e finas. Até à vista, até à vista... Voltando à sala, tomei do cartão que ele havia deixado sobre a mesa e, só então, pude ler: 'Alcebíades Pereira - Palhaço'."


O trecho da crônica de Afonso Schmidt, publicada em 1954 no livro São Paulo de meus amores, se refere ao mais luxuoso clown que a cidade viu em cena. Seu circo foi montado na década de 1920 no Largo do Paissandu. Lá brilhou ao lado de um expoente da época: Abelardo Pinto Piolin. A sua arquibancada abrigou o poeta Blaise Cendrars, que depois arrastou para lá toda a curriola modernista: Mário, Oswaldo, Alcântara Machado, Menotti Del Picchia. Todos eles escreveram sobre seu circo, e elegeram Piolin a alma de uma arte genuinamente brasileira.
Alcebíades foi também exímio pistonista. Filho de Albano Pereira, que chegou de Portugal em meados do século 19, acabou assumindo o circo quando o pai foi alvejado por uma bala perdida enquanto recepcionava o público numa função noturna. Pelo que nos conta Schmidt, Alcebíades, quando à paisana, continuava trazendo o ar aristocrata emprestado pelas lantejoulas de sua roupa de clown. Fez seu filho estudar Direito. Mas este, apesar de sustentar o título de doutor, ficou mais conhecido por Fuzarca, clown como o pai, o primeiro da TV.

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