terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Quando circo e viola se encontram

Não é novidade que viola e circo têm muito em comum. Quando comecei a pesquisar o circo-teatro, achava que estava dando sequência ao estudo da música caipira que me consumiu meia década e que rendeu o livro Moda Inviolada - Uma história da música caipira. Logo descobri que o circo-teatro ia além, ou melhor, vinha de antes, pois o encontro entre música caipira e circo se deu na década de 1940, quando as duplas passaram a buscar uma forma se apresentar no interior de forma desvinculada das gravadoras que, naquela época, se restringiam a gravar e a vender os discos. O Capitão Furtado, que mantinha na rádio Difusora o programa Arraial da Curva Torta e que havia lançado a dupla Tonico e Tinoco, fez várias incursões no picadeiro, seguido pelos Três batutas do sertão: Raul Torres, Florêncio e Rielli. Estes abandonaram os shows e as peças nos circos em 1950, depois de adaptar para a encenação canções como Cabocla Tereza e Chico Mulato, composições feitas em parceria com João Pacífico. Foi aí que Tonico e Tinoco passaram a atrair grande público com seu circo, apoiados na popularidade angariada com o rádio. A experiência durou trinta anos e acabou levando a dupla a produzir filmes nos moldes das peças encenadas no circo. Para infelicidade de Tonico e Tinoco, foram todos fracassos de bilheteria, o que teria dilapidado o patrimônio conquistado com as apresentações no circo.



Outra dupla que fez longa carreira sob a lona dos circos foi José Fortuna e Pitangueira, o primeiro compositor da versão da guarânia Índia, sucesso nas vozes de Cascatinha e Inhana (que também eram de circo), com centenas de regravações nas últimas décadas, acompanhado do irmão. O que pouca gente sabe é que grande parte do repertório da dupla vem do circo-teatro, pois Fortuna criava as modas a partir do enredo das peças que escrevia e encenava. Juntos, formavam o grupo Os Maracanãs, que se apresentava em diversos circos, dividindo a renda e fazendo concorrência direta com Tonico e Tinoco. Como mantinham programa na rádio Tupi, divulgavam a programação das peças e, quando chegavam para encenar, havia gente do lado de fora do circo esperando a próxima sessão. Criou O beijo da morte, A última valsa, Punhal da vingança, Voz de criança e Lenda da valsa dos noivos, sempre com Fortuna fazendo o galã e Pitangueira o cômico de sotaque italianado.
O site construído pela filha de José Fortuna, Iara, oferece farto material de consulta sobre a obra do autor, compositor e cantor. Foram de lá que "emprestei" as fotos.

Nenhum comentário: