quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Incelente maravia!

Depois da última edição do Caipirapuru, evento organizado pelo violeiro Júlio Santin em Irapuru (700 quilômetros de São Paulo, quase no Mato Grosso), os violeiros que participam do movimento iniciado pela Associação Nacional dos Violeiros do Brasil (ADVB) - veja mais na aba Música Caipira - cantaram no Mutirão da Cantoria, no encerramento da Reunião da Coordenação Nacional do MST, que aconteceu na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, no último dia 28. Foram mais de oito horas de cantorias, com participalções inesquecíveis de Levi Ramiro (na foto), João Bá, Pereira da Viola, Bilora, Joaci Ornelas, Zé Mulato e Cassiano, Zeca Collares, Júlio Santin, Milton Araújo, entre outros. Enfim, a nata da música instrumental de viola. Os sotaques se misturaram. Havia a viola pantaneira, caipira e do cerrado. Os artistas se apresentaram para um público de 500 pessoas, a maioria representantes regionais do MST, sob o comando de Mineirinho, coordenador cultural do movimento. Resumindo numa frase de famosa de Pereira da Viola, foi tudo "incelente maravia".
Por atuar a partir de um forte componente cultural, o da identidade com a tonalidade musical da viola, os violeiros têm uma visão diferente do chamado mercado fonográfico e musical. Como definiu Zeca Collares durante debate ocorrido no Caipirapuru: “Existe hoje uma música para o corpo e uma música para alma. Eu vejo esse movimento de música de massa como música para o corpo. Você agita, transpira, chega em casa, toma banho e ela vai embora pelo ralo. No dia seguinte não sobra nada. A música para a alma vai além do divertir, tem a função da transformação, de fazer pensar, de fazer nos assumirmos enquanto povo e nação”.  Não se trata, portanto, de simplesmente concorrer para ocupar espaço num mercado em que a hegemonia é do chamado “sertanejo universitário”. Mas oferecer algo mais ligado às origens musicais da música brasileira.
Com esse caráter de resistência cultural, o movimento luta para se firmar a partir de formas alternativas de financiamento. Entre elas as leis de incentivo à cultura para a promoção dos encontros e a gravação dos discos, e a estrutura de palcos do SESC, por exemplo, para a difusão dos artistas. Um desafio e tanto esse de defender uma música para a alma...

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