sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Pena Branca e a caixinha

Pena Branca me mostrava uma moda nova que havia composto. Ele e seu irmão Xavantinho, fazia questão de assinalar, pois acreditava que, mesmo em outro plano era ajudado pelo companheiro. Era linda, como de costume, sobre um peão que se dividia entre duas mulheres: a que ia lhe desejar sorte na hora de montar o boi brabo e aquela cuja fotografia estava dentro do seu chapéu: Nossa Senhora Aparecida. Perguntava se estava dentro do estilo dele. E eu, feliz por ter o privilégio de entrevistá-lo, só concordava... Mas era mesmo maravilhosa a moda.
Depois das poses para o fotógrafo, me faz um convite inusitado.
- Vem aqui ver uma coisa...
Atravesso a casa vazia, o corredor na penumbra, até alcançar o quarto. A cama arrumada, o aparelho de som e uma considerável pilha de CDs. Me explica que fora jurado do Prêmio Sharp e aqueles eram CDs dos participantes que recebia para dar a sua avaliação. Aliás, era como num jogo da memória: havia dois CDs de cada. O dele e o do Xavantinho.
- Escolhe um procê.
Tímido, vasculhei as pilhas e acabei apanhando um do Tavinho Moura com solos de viola, que virou o mico daquele jogo de pares. Nada mais condizente com a oferta.
Então ele pega uma banqueta, sobe, abre o maleiro do guarda-roupa de cerejeira e tira de lá uma caixinha de papelão, quase quadrada.
- Ói, queria te mostrar isso.
Abre a tampa, tira algo enrolado num papel pardo. Minha curiosidade já havia dispensado os CDs e aguardava a operação do desenrolar do pacote para ver o que se tratava. De repente, saca o pequeno gramofone dourado e aponta na minha direção.
- É o Grammy! Já tinha visto um? - pergunta, com um sorriso entre o orgulho e a satisfação ante a minha confirmação de que, de fato, jamais havia visto um Grammy na vida.
Um troféu que Xavantinho não viu, embora o disco Semente caipira, gestado com o irmão, tivesse sido gravado somente por Pena Branca em 2001, dois anos depois da morte do irmão. Levou o Grammy Latino de Melhor Música Sertaneja (essa indústria fonográfica e suas nomenclaturas...).
Satisfação maior, enfim, tive eu. Não por ter o Grammy em minhas mãos, mas por ter conhecido uma das figuras mais simples e fascinantes deste mundo...

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