quinta-feira, 26 de julho de 2012

Victor e Leo: em busca da essência perdida

Antes de iniciar o post, justifico a ausência de quase um mês no blog: puro excesso de trabalho. Aproveito, então para avisar que as postagens continuarão inconstantes em função da conclusão da minha pesquisa sobre o palhaço Piolin, objeto de meu pós-doutorado pela ECA/USP. Mas, vamos à reflexão, que nasce da seguinte entrevista da dupla Victor e Leo, representantes hoje do subgênero sertanejo universitário, publicada no blog "Sertanejo", de Marília Neves:

Victor: A palavra sertanejo tem que vir do sertão. Se ela não vier do sertão de alguma maneira, ela é um engano de quem está achando que aquilo é sertanejo. Isso é nossa opinião. Tem um monte de coisa aí dita como sertaneja, que de sertanejo não tem absolutamente nada, nem o cabo da vassoura. A música sertaneja passou por diversas modificações, mas não perdeu sua essência. Se eu citar, dentro do nosso repertório, canções como “Deus e eu no sertão”, “Rios de amor”, “Noite estrelada”, “Vida boa”, essas canções falam do sertão de uma maneira mais nova, entendível para as novas gerações, mas elas continuam lá, falando do velho fogão a lenha. De um tempo para cá, a palavra sertanejo veio perdendo seu sentido completamente. Eu respeito tudo, respeito até a falta de idealismo, mas não vou me misturar a ele e não vou ser conivente a isso.
Leo: Às vezes o cara nunca soube o que é música sertaneja, mas ele está falando que é sertanejo porque o gênero está em alta. Por um outro lado, todos os artistas que conquistaram um público fora do Brasil, é mérito do cara. A gente respeita e não se vê fora disso de uma forma incomodada. Se algum dia, a gente estiver lá, acho ótimo. Também não vou ser hipócrita e dizer que não quero meu nome citado na Billboard, pelo amor de Deus. Quero crescer o quanto eu consiga, acho que faço meu trabalho pra isso, pra alcançar, atingir mais pessoas, pra crescer. A gente respeita tudo, embora a gente não classifique todo mundo como sertanejo.

É interessante constatar que a despeito das modificações decorrentes da lógica de mercado da indústria fonográfica e de entretenimento, sempre agregando influências musicais externas, permaneça ainda o caráter mais agregador de uma manifestação cultural, que é o da identidade. Sim, pois ao requerer o sertão como "essência" da música que começou caipira, Victor e Leo recorrem a essa identidade. Nesse sentido, Renato Teixeira está mais coerente do que nunca ao dizer recentemente que não há diferença alguma entre a música caipira e a música sertaneja a não ser o momento histórico, que agrega o avanço tecnológico e socioeconômico. Muito bom saber que não se perdeu ainda a essência do nosso velho caipira.

3 comentários:

Marcelo Rodrigues disse...

Rapaiz, tudo aqui é bom demais!

Daniel Mendes disse...

O denominado sertanejo universitário é um fenômeno interessante:é uma recriação para o tempo das baladas jovens para o gênero sertanejo,cheio de características festivas,ao contrário do sertanejo romântico e depressivo dos anos 90.ele dilui por demais a informação caipira.mas a uma outra característica,essa contraditória,é que todas essas duplas tocam músicas caipiras em seus shows,gravam músicas nesse estilo e algumas,como joão carreiro e capataz, que faz a segunda grave como tião carreiro,toca viola no palco(até o gustavo lima toca viola no show!)gravam discos como o seu último,duplo,o primeiro com músicas caipiras, a maioria de autoria própria e o segundo com canções universitárias festivas sem deixar de tratar de...caipiras! esses artistas tem opções comerciais,em um mercado altamente lucrativo,mas parecem que,ao menos,sabem a origem do gênero ao qual se dedicam.O victor e léo mesmo,em seu primeiro dvd,entre suas canções,recheava o discos com músicas caipiras ou sertanejas dos anos 80 pra lá!eles tb sempre tiveram um discurso muito forte em defesa da cultura interiorana mineira...vai entender!As músicas universitárias apresentam uma pobreza musical e poética extrema(com excessão talvez de um victor e léo ou um joão carreiro e capataz),mas tem essa contradição:conheço muito moleque dizendo gostar de tião carreiro por esses caras...VAI ENTENDER! Obrigado pelo ótimo blog!

Daniel Mendes disse...

Um pouco sobre o que falei antes:http://colunistas.ig.com.br/sertanejo/2012/08/06/joao-carreiro-e-capataz-%e2%80%9ctudo-o-que-a-gente-construiu-nesses-dez-anos-de-carreira-nunca-precisamos-da-tv%e2%80%9d/?allcomments#comments