sexta-feira, 4 de maio de 2012

A falta que Tinoco fará à música caipira

Não existiriam os sussurros pop de Vitor e Léo se ele não tivesse sintetizado, junto com o irmão, a afinação de dupla, trazida das festas interioranas. Não existiriam os vibratos insistentes de Chitãozinho e Xororó, se ele e o irmão não tivessem gravado com o alto registro que, segundo contam, estourou o microfone da gravadora na primeira vez que entraram num estúdio. E não existiria, talvez, o prolongamento híbrido da música caipira, chamado de "sertanejo", se a dupla Tonico e Tinoco não tivessem se convertido em gabarito de todas as duplas que vieram depois deles. Afinal, com sua afinação perfeita - o que é característicos das duplas de irmãos cantores - eles firmaram um gênero musical que conseguiu atravessar o século 20 e aportar nesse milênio, repetindo um discurso musical que agora, com a morte de Tinoco, se encontra órfão de pai (resiste ainda a mãe, Inezita Barroso). A história dos irmãos de São Manuel é tocante. Da festa que ambos participaram usando pela primeira vez calças compridas - no Interior era costume usar calças curtas e suspensórios como marca da infância e ganhar calças compridas como rito de passagem para a adolescência - quando conheceram São Gonçalo, santo protetor dos violeiros; até o instante em iniciaram carreira ao vencer um concurso comandado pelo Capitão Furtado para comporem o casting do programa Arraial da Curva Torta, na Rádio Difusora. Dali em diante os Irmãos Perez se tornaram Tonico e Tinoco. Ou melhor, a "Dupla coração do Brasil". Por mais de 50 anos ocuparam o topo da preferência entre as duplas que pipocaram após seu sucesso. Fizeram longa carreira no rádio, foram para a televisão, venderam mais de 50 milhões de discos, perdendo, em vendagem, somente para Roberto Carlos, com a vendagem imbatível de 150 milhões de discos. Para se ter uma ideia, Chitãozinho e Xororó, numa carreira iniciada na década de 1970 e com o apoio de mídia que têm, somam 30 milhões de discos vendidos... Desde 1994 Tinoco tentava uma carreira sem o irmão Tonico, morto após uma queda da escada. Cantou ao lado do filho e peregrinou por programas popularescos de TV pedindo "auxílio" para sobreviver, octogenário. Foi a primeira voz que dava o tom da dupla, característica pelo sotaque caipira que nunca abandonou. Inesquecível os versos iniciais de Pé de ipê, que podem ser saboreados no video do programa Viola, minha viola, ainda no tempo em que era apresentado por Moraes Sarmento (1980). Para embalar uma manhã ainda mais fria com o adeus de Tinoco aos 91 anos...


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