sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Circo Vox e a linhagem circense

Na tarde de autógrafos em que lancei meu livro Mixórdia no picadeiro, no Centro de Memória do Circo, no final do ano passado, estavam lá outros autores assinando seus projetos e pesquisas, entre eles o casal Gallo Cerello e Elena Cerântula, do Circo Vox. Em 2010 eles empreenderam o projeto Nostalgia, que envolveu um espetáculo e um livro, este com o subtítulo: "À História que viveram, à que vivemos e à que virá. Que o Circo persista!" A publicação reúne depoimentos de seis circenses: Elza Marlene Alves Dias (trapezista, aramista e domadora); Dora Sofia Rutiz (telepatia); Benedito Sbano (o palhaço Picoly, já conhecido dos leitores do blog); Ricieri Pastori, o Julius (acrobata e ginasta); Teresita Mendez Aurich (equilibrista e aramista); e Elza Wolf (corda marinha e trapezista). Enfim, um circo completo, do passado, todos remanescentes do período áureo do circo brasileiro, entre as décadas de 1940 e 1960. O trabalho da dupla de autores, mais do que o registro da memória, foi trazer para o presente o tempo do passado, cristalizado nas almas dos artistas e vertido em forma de depoimentos. Complemento do espetáculo dirigido pela dupla, ele tem autonomia por tocar a alma circense de um modo direto e, ao mesmo tempo, delicado. A versão digital do livro pode ser acessada aqui. O mais interessante é que o Vox tem uma relação com esses circenses como a do aprendiz com o mestre budista: buscam a "linhagem". Por sorte, a encontraram. A seguir, uma pequena prova disso.

"O circo é uma natureza, tá no sangue. Se a gente está parado, morre. É igual uma flor que vai murchando." (Elza Marlene)

"A gente sempre aplaude aquele que fala bobagem. Eu acredito que a alegria do circo é a melhor que tem. É um lugar muito lindo..." (Dora Sofia Rutiz)

"A gente tem sempre que aprender. Até hoje eu me coloco na frente do espelho e começo a fazer mímica, caretas, pra ver como é que o palhaço faz uma careta na hora da malandragem, ou da ingenuidade ou bobo." (Benedito Sbano)

"Nossa, a coisa que mais tenho saudade é a vida no circo. (...) É uma vida muito boa, precisa amar, precisa amar tudo o que se faz, tudo na vida precisa amar e gostar, mesmo que você ganhe pouco..." (Ricieri Pastori)

"Eu tenho muito orgulho, sou muito orgulhosa de ter sido de circo e de continuar fazendo minha arte hoje em dia, eu fico muito feliz quando alguém realmente leva a minha arte, a arte que eu ensino, sabe?" (Teresita Aurich)

"Mas sinto muita saudade mesmo, lembro que cinco horas da tarde corríamos pra se arrumar, se vestir, às seis horas já tocava a música, às sete horas já estava todo mundo pronto, era um momento muito lindo, o companheirismo que tinha entre os artistas, as brincadeiras, porque passava da cortina pra frente a gente era artista e mostrava sua arte, mas atrás das cortinas éramos tão companheiros, eram tantas brincadeiras..." (Elza Wolf)

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