segunda-feira, 12 de março de 2012

Os palhaços de Salomão

Fred (à esquerda), com Carequinha
A ligação entre circo e Maçonaria é antiga e envolta por um tom de mistério, aliás, como tudo o que envolve a antiga ordem. Meu interesse na pesquisa que redundou no livro Mixórdia no picadeiro era entender até que ponto essa ligação dos circenses com a Maçonaria interferia na sociabilidade de uma classe nômade por definição. A chave estava justamente aí: a Maçonaria foi, de certa forma, uma maneira encontrada por quem vive em constante movimento para encontrar um vínculo social e identitário. Na entrevista que me concedeu, Franco Alves Monteiro, o palhaço Xuxu, ele mesmo Grão-Mestre maçom, contou que o anel da ordem abre portas nas mais distantes cidades. Ou seja, se a autoridade local pertence à Maçonaria e detecta a mesma filiação no visitante, tudo fica mais fácil. Afinal, a Ordem é conhecida pela prática de ajuda entre irmãos. A mais antiga ordem maçônica brasileira, a de Salomão, com origem no país durante o período da Independência, teve em seus quadros inúmeros circenses. Seu funcionamento às segundas-feiras atraiu a classe que, como é sabido, tem nesse dia da semana a sua folga semanal. Com isso, não tardou para que ficasse conhecida como "Loja dos Palhaços", da qual fizeram parte Quero-Quero (Mario Sabino Campioli), Fred (Frederico Viola, parceiro de Carequinham que também foi maçom, assim como Piolin, Arrelia, Torresmo, etc.), Zumbi (Aymoré Pery), Eduardo Temperani (o primeiro homem-bala do país), Carlos Angel Lopes (palhaço), além de outros artistas. Vale lembrar também que a maior parte das famílias circenses que atuaram no Brasil durante o século passado chegaram no país no século 19, vindo, em sua maioria, dos países europeus, onde a tradição maçônica, como a conhecemos hoje, remonta, pelo menos, ao Iluminismo, no século 18.

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