domingo, 12 de fevereiro de 2012

A presença silenciosa de Renato Consorte

Muitos ainda se lembram de Renato Consorte como o seu Chalita, da novela Tieta. Mas o ator iniciou carreira nos anos 1960 no Teatro de Arena. Com marcante atuação política, lutou pela anistia, em favor das greves do ABC, e militou no Sindicato dos Artistas de São Paulo. Tudo em plena ditadura militar. Pois foi essa figura singular que teve o mérito de lançar um dos grandes nomes da música caipira: o xará Renato, este Teixeira. No final dos 1960, o violeiro saiu de Ubatuba e veio para São Paulo, indicado por Luiz Consorte, sobrinho de Renato, o ator. Foi aquele que enviou ao tio uma fita cassete com as músicas do autor de "Romaria". Renato Consorte, por sua vez, levou a fita para Walter Silva, promotor de novos talentos da época. Este foi o passaporte para entrar no Festival de Música da Record. Logo de cara, a música de estreia foi cantada pela desconhecida Maria da Graça, depois reconhecida com o nome de Gal Costa.
Pois não é que no dia em que lancei meu livro Moda Inviolada, no bar do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, onde também comecei a pesquisa, seis anos antes, ele estava lá, de pé, silencioso, com os olhos grudados na dupla de violeiros Lucas Torneze e Arnaldo de Freitas, que desfiavam modas e toadas em suas violas. Lá permaneceu boa parte do tempo que durou a noite de autógrafos. Só rejeitou a cachacinha de Guararema que meu cunhado servia de mesa em mesa. Vejo-o como um guardião, sempre alerta. Quase três anos depois desse dia, numa noite de julho de 2006, Consorte foi vencido por um câncer de próstata.

Nenhum comentário: