quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O Momo palhaço

Parece óbvio, mas nem tanto. Mas era um costume dos antigos carnavais coroar o palhaço do circo que estava na cidade como o Rei Momo durante os dias de folia. A matriz é a mesma: tanto a festa popular quanto a figura do excêntrico vêm dos festivais da Idade Média dedicados à celebração da colheita, ocasião em que havia um acordo velado entre as classes sociais, e entre a Igreja e a patuleia urbana para que todos praticassem a chamada "inversão". Ou seja, o rico se vestia de pobre, o homem de mulher, o ateu de clérigo. E, nessa mixórdia, passavam dias atirando água e farinha uns nos outros, além de resíduos menos cheirosos, como testemunhou François Rabelais, autor do Renascimento, nos livros Pantagruel e Gangântua, satíricos e que preservaram o humor grotesco do período. Aliás, o mesmo que pauta as piadas dos palhaços até hoje! Assim, nada mais natural do que coroar o palhaço como o rei que irá comandar a folia. Todos os grandes palhaços tiveram a honra de ocupar essa posição: Piolin, Arrelia, Chicharrão, Torresmo, entre outros. Todos magros, pequenos, com o tipo físico bem diferente do tradicional gordo de bochechas rosadas. Hoje em dia, quando a lógica se arrisca a querer ser mais sensata que a própria lógica, já pregaram contra a figura rechonchuda em nome de uma pretensa opção pelo "saudável"... Mas vale lembrar que o Rei Momo é uma representação, e como a festa do carnaval surgiu para celebrar a fartura, seu representante deveria ter formas cheias e arredondadas, assim como, por exemplo, é a representação de Dionysios, o deus grego do vinho e das artes. Outro desvio é criar um Rei Momo folião... que se mantém ordeiro! Afinal, o carnaval começa quando ele recebe a chave da cidade, e no comando da cidade não pode haver alguém que distribua a desordem! Enfim, sinais de um tempo em que a representação perde para a obviedade e a porraloquice (lembram dessa palavra?) se dissolve em nome do corretismo... Na foto, Sua Majestade Momo Arrelia.

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