quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ride palhaço: de Leoncavallo a Lamartine Babo

Um tema que acompanhou o decorrer do Projeto "Entre risos e lágrimas - O teatro no circo (das pantamimas aos dramas)" em 2011 foi Ride palhaço, versão de Lamartine Babo da ária da ópera Pagliacci, de Leoncavallo, cantada por ninguém menos que Arrelia, com suas firulas de linguagens e tudo. Transfromada em marchinha de carnaval -como bem caberia na interpretação de um  palhaço -, ela faz parte do disco homônimo gravado em 1958 pela bandinha de Altamiro Carrilho e doze faixas interpretadas por Arrelia, todas elas de autoria de Lamartine, o que inclui clássicos como A...e...i...o...u..., Linda morena, Chegou a hora da fogueira e O teu cabelo não nega, que ganhou versão engraçadíssima com o palhaço entoando: "...o teu cabel-lo não nelga mulalta...". A versão do tema da ópera foi gravada originalmente em 1934 por Mário Reis e mantém o triângulo amoroso da trama de Leoncavalo: a Colombina, o Pierrot (Pagliaccio) e o Arlequim. Só que a ária final é cantada no momento mais trágico da ópera, quando Canio, que interpreta o Pagliacci (a história é de atores interpretando a comédia, confundindo sentimentos reais com os encenados), descobre o amante de Nedda (a Colombina), que é Sílvio, e apunhala ambos, num desfecho clássico da lógica trágica. No entanto, na versão carnavalesca, nada é tão lógico nem tão sério assim:

Eu sou o teu Pierrô
Colombina, Colombina
Reparte esse amor
Metade pra mim
Metade pro teu Arlequim!

Nada mais carnavalesco do que um amor distribuído! Os mais incautos dirão: mas isso é coisa que palhaço diga? Não vamos esquecer que essa ideia de que palhaço faz graça somente para as crianças é um dos grandes mitos circenses... Afinal, quem canta é aquele conhecido como o "ladrão de mulher"!

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