sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Os circos da minha infância


Recomeçando as atividades do blog neste 2012 e ainda sob o clima de férias, embora já esteja trabalhando, evoco minhas memórias infantis para relembrar os circos cujas lonas cobriram minha imaginação na não tão distante Mogi das Cruzes. Vivi a maior parte dessa infância nos anos 1970, quando os grandes circos viviam seu auge e traziam para o Brasil o tipo de espetáculo conhecido como americano, com grandes picadeiros, quando não dois num só circo, animais amestrados, números produzidos e luzes, muitas luzes. Lembro o ronco das motocicletas do Globo da Morte percutindo dentro do meu peito na escuridão forjada do espetáculo, com as lanternas rodopiando pelo picadeiro num movimento tão rápido quanto o pensamento; ou as dançarinas de maiô dourado que rompiam a escuridão com lanternas acesas nas duas mãos, projetando círculos dançantes no teto de lona, sob o arranjo futurista de Valdo de Los Rios do poema sinfônico consagrado - pelo cinema - Assim falou Zaratustra, de Richard Strauss. As lonas de Orlando Orfei, Thiany e Garcia eram as mais constantes na cidade que, descubro hoje, por meio da pesquisa acadêmica, ter sido evitada pelos circos mais antigos por ser uma praça de pouco movimento. Lembro-me também do fato de ter sido na cidade que Orlando Orfei foi atacado pela primeira vez na sua vida por um de seus leões, ele um hábil domador que sempre posou ao lado das feras com certa intimidade (foto). Só não trago na lembrança os palhaços dos circos que frequentei. Estes vieram, sim, dos programas de televisão, a começar por Arrelia e prosseguindo com Torresmo e Pururuca, com alguma deixa para Carequinha. Trago, enfim, a lembrança de ter vivido a experiência de um temporal sob a lona de um circo. O vento arrastava o pano de roda, levantando-a à altura da arquibancada, com o vento zunindo pelas cordas e a água varrendo os vãos dos assentos, molhando nossas pernas. No picadeiro, como se nada acontecesse, o espetáculo prosseguia, o que nos dava uma certa aflição. Mas, como diz Lauro, protagonista do conto Cavalinhos, de Monteiro Lobato, ao sair da função circense: “a beleza das coisas não reside nelas senão na gente”.

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