sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Goiá, o sedutor de Coromandel

Coromadel fica na região do Alto Paranaíba, próxima ao Triângulo Mineiro e de lá saiu Gerson Coutinho da Silva, o compositor Goiá, cujas composições se consagraram nas vozes da dupla Zilo e Zalo. Assim como Coromandel colou Goiá no mundo, Goiá retribuiu colocando Coromandel no mapa. Tanto que a cidade, após sua morte prematura, em 1981, aos 46 anos, se dedica a guardar a memória de seu filho mais dileto, compositor de 311 músicas. Aprendo tudo isso sobre Goiá com a intensa pesquisa de Diogo de Souza Brito, que defendeu mestrado sobre o compositor na Universidade Federal de Uberlândia (também no Triângulo), e que agora é publicada pela EDUFU como parte do Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música, com o nome de Negociações de um sedutor: trajetória e obra do compositor Goiá no meio artístico sertanejo. Goiá saiu de sua cidade no início dos anos 1950, tendo retornado só em 1967, já consagrado. Compôs diversos temas sobre a cidade, entre eles Saudades de Coromandel (1962). A pesquisa de Brito revela não só a construção do artista Goiá a partir de negociações com o patronato de sua cidade assim como com a indústria fonográfica. Aliás, seu estudo tem o mérito de também mostrar o modo como operam as gravadoras, mostrando uma interferência que sobrepõe a criatividade artística e que, de alguma forma, ao moldá-la, exerce um tipo refinado de censura controladora (definição minha). Recebi gentilmente um exemplar do livro, encaminhada por Brito por intermédio deste blog. Certamente, o pesquisador dá sua valorosa contribuição acadêmica à pesquisa da música caipira. Aliás, a esse gênero que passou anos sob o preconceito da cultura oficial mas que hoje, seja por força de seus subprodutos altamente vendáveis, seja por aqueles que, como Brito, se dedicam a desvendar sua contribuição simbólica, começa a ser integrada à história da formação cultural brasileira.

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