terça-feira, 29 de novembro de 2011

Palhaços em pleno exercício de memória


Picoly (Benedito Sbano)

Picolino (Roger Avanzi)





















Por ser oral, a arte do circo se expressa a partir da memória dos circenses. Os saberes são aprendidos na família, oralmente. E qualquer encontro de circenses gera saborosas horas de rememoração de textos de circo-teatro e de velhos 'causos'. O encontro que aconteceu ontem no Centro de Memória do Circo com os palhaços Picolino, Picoly e Biriba, não poderia deixar de render essas boas lembranças. Tanto de textos quanto de histórias. Inclusive as tradicionais gafes durante a encenação da peça O mártir do Calvário, ou A paixão de Cristo (o nome muda conforme o circo que a encena). Mas antes, falaram sobre uma das mais nobres artes do palhaço: a comédia de picadeiro, a chanchada, o combinado. Textos, na sua maioria orais, não escritos, que fizeram e fazem a história do circo. O morto que não morreu, A menina virou, O esqueleto, As duas Angélicas, A casa mal-assombrada, Doutor Redondo, entre outras. Clássicas, são adaptadas ao gosto do palhaço. Picolino - para quem não conhece, seu Roger Avanzi, - lembra que gostava de encenar o que os circenses chamam de "alta comédia", ou seja, as comédias de costumes. Lembra de Chica Boa, de Paulo Magalhães. Mas ressalva que adaptava o texto ao seu tipo Picolino. Tanto que, para atrair o público, preferiu mudar o nome da peça para Solar dos urubus. Até que um dia, relembra, numa cidade no interior do Nordeste - aliás, grande parte da história do Circo Nerino se passa em temporadas nordestinas - após a peça, algumas pessoas foram perguntar a ele qual o significado da palavra "solar". Percebeu que não haviam muitos solares nas pequenas cidades do sertão. Mudou o nome novamente. Assim, a velha Chica Boa virou Picolino na casa dos urubus! Ao final do encontro, o gesto emocionado de Biribinha coroou o encontro, presenteando os amigos de mesa, Picolino e Picoly, com dois bonecos feitos em papel machê, de sua própria lavra, representando os dois tradicionais palhaços e que hoje sintetizam o circo brasileiro. Como era esperado, foi um encontro antológico!

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