sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Almir Sater: música de massa não precisa ser "sertaneja"

A viola alcançaria a classe média se Almir Sater não tivesse protagonizado algumas novelas da Manchete (Pantanal e A história de Ana Raio e Zé Trovão) e da Globo (O rei do gado)? Talvez não. Ou melhor, talvez isso tivesse até ajudado ao público separar o joio do trigo, ou seja, revelar que há uma música caipira e uma música "sertaneja". Afinal, o violeiro matogrossese surge numa época em que as duplas Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonando e Zezé Di Camargo e Luciano consolidavam o gênero mais comercial e amplamente palatável a todas as classes consumidoras de música. Pois Almir Sater traz a viola instrumental, e junto com ela uma sonoridade menos regional, mais "filosófica", pois agrega também elementos da chamada Música Popular Brasileira, ou seja, aquela que surge a partir dos anos 1960 e que encontra, no caso particular da viola, o reforço de Renato Teixeira, não por acaso grande parceiro de Sater, especialmente em seus principais sucessos: Um violeiro toca e Tocando em frente.
Estudante que abandonou o curso após ouvir Tião Carreiro sendo executado por dois violeiros numa feira nordestina no Largo do Machado, no Rio de Janeiro, onde estudava Direito, Sater tem uma trajetória que envolve trilhas, comitivas e algumas veredas tortuosas. Uma delas, por exemplo, foi um disco com músicas cantadas em inglês, Rasta bonito, em que tenta alinhar viola e banjo. Mas sua principal investida na pesquisa musical se deu em 1984, com a criação da Comitiva Esperança, que vagueou mais de mil quilômetros pelo interior do Mato Grosso atrás de novas sonoridades, estas sintetizadas nos discos seguintes de Sater e no documentário com o mesmo nome da aventura, lançado em 1985. Quem o levou para as novelas foi Sérgio Reis. Daí para frente se tornou música de massa, arrantando o público para suas apresentações violeiras e revelando uma versão alternativa ao crescente "sertanejo". Sorte da música caipira, que se desdobrou em novas sonoridades e mostrou que nem sempre aquilo que a indústria fonográfica gesta pode ser verdadeiramente de massa.

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