quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Plínio Marcos era o palhaço Frajola

Sempre tive uma ligação intelectual com Plínio Marcos. Desde quando entreguei-lhe, na adolescência, um exemplar do meu livrinho Vila dos Esquecidos, na beira do palco do Teatro TAIB, no Bom Retiro, onde encenava Jesus Homem, com João Acaiab no elenco. Vi o espetáculo por duas vezes, assim como vi Barrela, depois de duas décadas sob censura, e encontrei o malandro santista nas três vezes, pois logo ao final da peça lá surgia o barbudo com seus livros a tiracolo para vender e "debater". A identificação já começava daí: vender livros pessoalmente, que era o que eu fazia com os pequenos volumes que meu pai mandou imprimir na gráfica de um amigo. Aliás, meu pai jura que ouviu Plínio mencionar a "borboleta na manga do palhaço" num programa de TV, em referência ao poema que havia no meu livro. Acontece que, na verdade, Plínio foi palhaço, Frajola, e, segundo Oswaldo Mendes, que escreveu Bendito Maldito, biografia de Plínio, foi do circo-teatro que o autor tirou sua experiência teatral, revertendo-a para o teatro engajado politicamente. Sei que, inspirado por Plínio, tentei fazer palestras e vender livros, e consegui fazer isso por umas duas ou três vezes. Depois, formado e trabalhando na revista IstoÉ, quando esta ainda era da Gazeta Mercantil, cuja redação ficava no comecinho da avenida Consolação, perto da Biblioteca Mário de Andrade, encontrei-o diversas vezes na porta e na piscina da Associação Cristã de Moços (ACM) da Nestor Pestana, onde, aliás, aprendi a nadar. Há cerca de um ano li o livro de Oswaldo Mendes e, então, pude me dar conta do quanto Plínio havia me influenciado intelectualmente. Também relembrei Vera Artaxo, com quem ele foi casado nos seus últimos anos. Tive a oportunidade de conhecer Vera quando ela trabalhava na Abril, editando uma revista de decoração, para a qual me contratou como redator. No dia do meu aniversário, recebo uma ligação de Vera e ela dispara: não vai haver mais contratação. O motivo: ela havia sido demitida. Numa atitude rara entre jornalistas, ela estava me ligando para evitar que eu passasse algum mal estar indo procurá-la na redação. Pois não é que assim que terminei de ler o livro, fui procurar por ela e descubro, minutos depois (ah, a internet, esse Grande Irmão...) que tambénm havia se ido havia dois meses... Ao palhaço Frajola e à sua última esposa, saúdo pela singularidade de ambos neste mundo que quer ser cada vez mais homogêneo. A seguir, depoimento de Plínio reproduzido do seu site:

Frajola e Lico“Eu queria namorar uma moça do circo, que conheci quando o cantor do nosso bairro foi cantar no circo. O pai dela só deixava ela namorar gente do circo. Então eu entrei para o circo. Achei que era mais engraçado do que o palhaço e que eu devia ser palhaço.” “Eu tinha o apelido de Frajola, não porque andasse bem vestido, mas porque tinha saído uma revista em quadrinhos, Mindinho, com um gato chamado Frajola, que sempre queria pegar um passarinho – e eu fui preso roubando um passarinho numa casa, na ocasião em que saiu a revista.” “Comecei a ficar mais fixo em circo depois que saí do quartel, com 19 anos. Mas, desde os 16, já estava trabalhando como palhaço.” “Trabalhei em todos os circos, no Circo dos Ciganos, no Circo do Pingolô e da Ricardina, no Circo Toledo, Circo Rubi, da Aurora Viana e do Carvalhinho. Agora, o primeiro pavilhão em que trabalhei foi o Pavilhão-Teatro Liberdade, que ficou armado cinco anos em Santos, dando espetáculos todas as noites.” “O circo era um pavilhão-teatro. Tinha a parte dos shows e tinha a parte do teatro. Na primeira parte, a gente fazia os shows: entrava o palhaço, essas coisas todas, os números de circo; e, na segunda, tinha sempre uma peça. Eu fazia vários pequenos papéis. Nunca cheguei a fazer um grande papel, mas sempre com falas, papelzinho de destaque.”

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