sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A Copa e a cultura das ruas


Leio artigo de Paulo Miguez, da Universidade Federal da Bahia, em que reflete sobre a pressão exercida pela toda poderosa Fifa, organizadora da Copa do Mundo de Futebol, para que as cidades sede dos jogos controlem a chamada cultura das ruas. Isso parte de um preconceito generalizado, que atinge não só os mandantes de cartola do futebol, mas a própria política brasileira: a de que as ruas vivem evidenciando sinais de "pobreza". Aliás, se trata de uma triste tradição brasileira. A principal festa popular do Império, por exemplo, a Folia do Divino, que aconteceu no Campo de Santana, na capital federal (Rio de Janeiro) por décadas, e que reunia grupos de folias e congadas para celebrar o Divino Espírito Santo - prática a princípio endossada pela Coroa, especialmente por se tratar também de um "Império" e ter à frente da procissão uma coroa - foi com o tempo sendo coibida por leis que proibiam a venda de produtos, a montagem de barracas da tradicional feira (onde floresceu um importante teatro popular de bonecos) até que, antes do início da República, os festejos foram empurrados para o distante bairro da Penha. Logo teria início a política do "bota abaixo", com a destruição dos cortiços na região central da cidade para a construção de boulevares ao estilo parisiense. Por conta disso, a população pobre, em sua maior parte negra, acabou se transferindo para o morro da Favela, o que criou o nome genérico para as habitações dependuradas nos morros. Recentemente tivemos outra mostra dessa visão elitista e enviesada, quando a associação de moradores do bairro de Higienópolis se empertigou com os planos da companhia do Metrô em construir uma estação no bairro, o que acabou gerando um movimento bem original, batizado de "Churrasquinho diferenciado", organizado por meio das redes sociais virtuais e contra a resistência de alguns moradores do bairro ante a diversidade.
Pois bem, a Fifa parece que quer uma reação dos governos municipais e estaduais para evitar o tradicional churrasquinho de gato, ou os vendedores de vuvuzelas (nossa! será que ainda teremos isso nessa Copa?), os sorveteiros, baleiros, baianas do acarajé, etc. Sucumbiremos mais uma vez ao poder devastador exercido em nome da "globalização" recolhendo envergonhados a nossa cultura popular? 

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