quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Circo: entretenimento popular

Cultura popular, entretenimento popular, povo. São ideias arriscadas, pois pedem definições estanques quando na verdade são conceitos difusos. A massa popular urbana, sempre imaginada como um monolito geométrico, na verdade se assemelha mais a uma espuma onde bolhas de diferentes formatos são criadas e estouradas a todo momento. Durante muito tempo imaginou-se que esse "povo" não tivesse sequer voz, tampouco iniciativa ou que poderia ser moldado como uma criança faz com uma massa plástica. Bom, em minha pesquisa sobre o circo parto do questionamento do porquê uma manifestação cultural tão importante e tão evidente no cotidiano da cidade de São Paulo passou tantos anos sem história. Sabe-se hoje como se construiu o teatro paulista, o cinema paulista, a música popular paulista, a televisão paulista. Mas, e o circo? Exceto os palhaços que fizeram parte dos primeiros programas de TV, pouco se sabe sobre o que se passava sob as lonas dos circos. E eram muitos. Além dos dois "fixos", ou seja, que passaram mais tempo armados no mesmo endereço na metrópole, como o Circo Piolin (na Barra Funda) e o Circo Seyssel (na Liberdade), outros 88 circos passaram pela cidade entre 1930 e 1968. Quem frequentava esses espaços de entretenimento? O povo. Que povo? Bom, aí fica mais complicado definir. Ouvi da filha de uma empregada doméstica na última segunda-feira, que sua mãe, que trabalhava numa casa de família no bairro de Higienópolis tinha o Circo Piolin como sua referência de entretenimento. E de sociabilidade. Contou-me que nas décadas de 1940 e 1950 havia grupos bem definidos que se encontravam nos finais de semana na Praça Buenos Aires: empregadas, motoristas e lavadeiras. Essas últimas moravam nas proximidades da Barra Funda, onde constituíram um bolsão de população negra, e lavavam as roupas das famílias ricas nas beiras do Tietê. Como a maior parte das empregadas tinha família no interior do Estado, o grupo se reunia em busca de sociabilidade e encontrava poucas formas de se divertir. Na maior parte das vezes esse divertimento era entre as cadeiras do Circo Piolin, onde "todo mundo era igual", pois só havia um preço de entrada e um só espaço comum. Lá, essa parte do "povo" passava suas horas de folga. E lá se entretinha com as estrepolias do grande palhaço. (Na foto, o Circo Piolin na rua que hoje leva o nome do palhaço, no Largo do Paissandu, na década de 1930.)

Notícias do Projeto "Entre risos e lágrimas": O lançamento na segunda foi concorrido e contou com as presenças ilustres de nove mestres palhaços (Picolino, Xuxu, Pururuca, Pepin, Reco reco, Romiseta, Condorito e Corchito, Bacalhau), do Secretário Municipal de Cultura, Carlos Augusto Khalil, e do criador e coordenador dos Doutores da Alegria, Wellington Nogueira. Dia 31 de agosto acontecerá a primeira apresentação dos mestres, a cargo de Romiseta!

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