sexta-feira, 29 de julho de 2011

A viola ponteando a MPB

E não é que, em plena efervescência dos festivais de Música Popular Brasileira - nome equivocado para rotular a criativa e original geração pós Bossa Nova - surge a viola ponteando canções vencedoras? Foi assim em 1966, durante o II Festival de MPB da Record, quando o auditório do Teatro Paramount, na av. Brigadeiro Luíz Antonio, em São Paulo quase explodiu em guerra na disputa entre Nara Leão, com A banda de Chico Buarque; e Jair Rodrigues, com Disparada de Geraldo Vandré e Théo de Barros. Mais que um providencial empate, negociado pelo júri e para resguardar as estruturas físicas do teatro e evitar que as torcidas chegassem às vias de fato, o embate era o de uma canção nostálgica e otimista, e outra combativa, engajada e inquiridora. Hoje, olhando a uma distância de 45 anos, o que se nota é que ambas tinham um componente musical e discursivo bem de resgate do antigo (a bandinha de interior e a viola rural). Tirando a questão política, e se atendo à cultural, não parece que tenha havido tanta diferença entre as duas canções. Mas vamos nos ater à viola, que em Disparada estava a cargo do próprio Théo de Barros. O conjunto que acompanhava Jair Rodrigues não pôde ser o Trio Novo de Théo por razões contratuais. Substitui-o o trio formado por Aires (viola), Edgar Gianullo (violão) e Manini (percussão), este último, para temperar mais a referência rural, usou uma inusitada queixada de burro (foto). No ano seguinte, no III Festival da MPB, da mesma Record, aí sim o Trio Novo, já transformado em Quarteto Novo, com a entrada de Hermeto Pascoal (no piano e na flauta), acompanhou Edu Lobo e Marília Medalha na vitoriosa Ponteio. Foi, aliás, um festival em que se digladiaram todos os grandes da MPB das décadas seguintes: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos... Théo introduziu um ponteio de viola - esse sertanejo e nordestino - trazendo de volta a sonoridade rural para a MPB. Estava ela lá a viola, de novo... O casamento definitivo entre a MPB (ou parte dela) com a sonoridade caipira se daria uma década depois, quando Elis Regina grava Romaria, de Renato Teixeira, compositor que já estava entre os que disputavam vaga nos festivais mas que só se consagraria no final da década de 1970. Depois disso viriam vários outros promotores dessa mistura, entre eles Almir Sater, Pena Branca e Xavantinho, etc.

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