sábado, 25 de junho de 2011

Milton Araújo e a musicalidade do Mato Grosso

Em agosto de 2008 foi gravada uma conversa informal entre o violeiro Milton Araújo, sobrinho de Helena Meireles e herdeiro da musicalidade matogrossense, eu e o pesquisador Danilo Okamoto. Nesse encontro Milton falou um pouco da troca musical que há na região da fronteira do Mato Grosso com o Paraguai, seus ritmos e a afinação característica da viola tocada na região, a Rio Abaixo. Segue um trecho, pra homenager o violeiro, que faz aniversário amanhã!

"Um dos focos da afinação Rio Abaixo é o Mato Grosso e por ser fronteira com o Paraguai, até hoje esses estilos que vêm do Paraguai influenciam muito os matogrossenses, tanto que eles são bilíngues, falam guarani e falam castelhano. O cancioneiro do Paraguai é muito presente nos matogrosseses. A polca paraguaia, e um ritmo que é muito mais presente nos matogrosseses, que é o rasqueado, e que é um ritmo que os paraguaios também adotaram. Então é uma troca cultural grande. Aliás, naquela região de fronteira, muita coisa do Mato Grosso era do Paraguai, antes da Guerra do Paraguai. Então é como se fosse uma coisa só. Essa região do Paraguai é um dos focos da afinação Rio Abaixo. No Brasil tem poucos focos da afinação Rio Abaixo: no Vale do Jequitinhonha; num dos lados do rio Urucuia -  num lado eles tocam a afinação Cebolão e no outro tocam a afinação Rio Abaixo -; e o Mato Grosso do Sul, na região de Campo Grande, de onde a minha família, por muitas gerações, é difusora dessa afinação. Pelo menos quatro gerações são representantes e difusores da afinação Rio Abaixo. É nessa região que há o ritmo hoje generalizado como chamamé. Trata-se de uma generalização, assim como é o forró. Ele reúne a polca paraguaia, também chamada de polca galopa, o rasqueado, a chamarrita, a milonga. São vários ritmos que se agregam num único nome: chamamé. Mas o chamamé é também um ritmo em si. E ele caracteriza bem a musicalidade da Bacia do Prata."

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