
Debate acalorado no Centro de Memória do Circo e de repente alguém se refere à arte do trapézio. Só que na plateia está nada menos que Dover Tangará, da trupe que leva seu sobrenome, que imperou nos ares circenses por décadas até o ponto em que ele, com nome e prenome aéreos, foi considerado o melhor do mundo. Ao se levantar e defender a sua arte a reação dos presentes não poderia ser outra: o aplauso foi unânime. O trapezista, sem se fazer de rogado, levantou os braços, estendeu-os à frente e curvou-se ao público: postura de quem sabe receber aplausos. Afinal, foi o que fez na maior parte da sua vida. Dover foi personagem do livro
O filósofo voador, de
Eduardo Rascov, meio ficção, meio biografia, que conta sua trajetória das alturas para as profundezas, arrastado por problemas psicológicos que o levaram para a vida nas ruas. Mas Dover mantém o brio daquele que desafia o perigo refazendo todas as noites o número que não reconhece erro, pois envolve a morte. Revi Dover hoje, após alguns meses de distância, em que vivia uma amarga recaída depressiva. Estava sorridente, disse estar feliz por ter me encontrado - quando eu é que deveria ter dito isso a ele. E me cobrou: quer encenar
O mártir do Calvário numa megaprodução em pleno Memorial da América Latina, só com artistas circenses. Já disse aqui no blog que se trata do sonho de todo circense, afinal, é a peça mais complexa - com inúmeros personagens e texto rimado, o que exige destreza, desempenho cênico e boa memória de quem a encena. Dover se revela pronto para ela. Mais do que nunca. E sabe que fiquei bem feliz em vê-lo assim de novo?
Um comentário:
Presenciei essa cena.
E foi, de fato, impressionante.
Ele cresceu naquele instante.
Pp
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