O ano era 2000 e eu estava concluindo a pesquisa sobre o universo da viola para apresentar na banca do curso de especialização que fazia na ECA/USP, passo inicial de uma série de outras pesquisas, que me trouxe ao presente pós-doutorado. Na casa da tia do violeiro Rodrigo Mattos, na época com pouco mais de 18 anos, me sentia presenteado por ter a oportunidade de conhecer o grupo ali reunido. A dupla Célia e Celma tinha ido comigo, pois as irmãs mineiras haviam me indicado o Rodrigo para a pesquisa; lá encontrei a dupla Cacique e Pajé, sendo que, na época, o Pajé era o Índio Cachoeira; além de Téo Azevedo. A leitoa estava esturricando no forno e a viola comendo solta no quintal da casa. Num dado momento, Cacique passou a demonstrar as suas habilidades de catireiro, sapateando o recortado. Essa troca de sapateado foi o tema que Tião Carreiro transferiu para a viola em 1959. Ao ouvir a novidade, Lourival dos Santos e Teddy Vieira compuseram um tema e batizaram Pagode em Brasília - era o tempo em que a capital estava sendo finalizada para ser inaugurada no ano seguinte por Juscelino Kubistchek. A novidade estourou no universo da música caipira, pois em termos de subgênero, há décadas não surgia nada de novo. Como o pagode nasceu da adaptação do recortado - assim como baião surgiu da transferência de um motivo da viola de repente para a sanfona de Luiz Gonzaga (igualmente registrada com a música Baião, parceria de Gonzaga com Humberto Teixeira) -, trata-se de uma adaptação originada dentro do próprio gênero, diferentemente do que acontecia com a música "sertaneja", que já havia agregado influências da guarânia paraguaia, da rancheira mexicana e do bolero e ainda seria alterado pelo rock abrasileirado do iê-iê-iê (com o uso de teclados e guitarras), pelo country americano (na Era Reagan, anos 1980), e pelo pop, resultando, já no século 21, no atual sertanejo universitário. Dos pés para o toque de viola, o recortado gerou um ritmo animado, só superado, talvez, pela popularização do chamamé, ritmo originado no Centro-Oeste, com influência da polca paraguaia, e popularizado por Almir Sater. No video, a dupla Tião Carreiro e Pardinho cantam o pagode acompanhado pela catira em cena do filme Sertão em festa (1970).
terça-feira, 31 de maio de 2011
O recortado, que gerou o pagode de viola
O ano era 2000 e eu estava concluindo a pesquisa sobre o universo da viola para apresentar na banca do curso de especialização que fazia na ECA/USP, passo inicial de uma série de outras pesquisas, que me trouxe ao presente pós-doutorado. Na casa da tia do violeiro Rodrigo Mattos, na época com pouco mais de 18 anos, me sentia presenteado por ter a oportunidade de conhecer o grupo ali reunido. A dupla Célia e Celma tinha ido comigo, pois as irmãs mineiras haviam me indicado o Rodrigo para a pesquisa; lá encontrei a dupla Cacique e Pajé, sendo que, na época, o Pajé era o Índio Cachoeira; além de Téo Azevedo. A leitoa estava esturricando no forno e a viola comendo solta no quintal da casa. Num dado momento, Cacique passou a demonstrar as suas habilidades de catireiro, sapateando o recortado. Essa troca de sapateado foi o tema que Tião Carreiro transferiu para a viola em 1959. Ao ouvir a novidade, Lourival dos Santos e Teddy Vieira compuseram um tema e batizaram Pagode em Brasília - era o tempo em que a capital estava sendo finalizada para ser inaugurada no ano seguinte por Juscelino Kubistchek. A novidade estourou no universo da música caipira, pois em termos de subgênero, há décadas não surgia nada de novo. Como o pagode nasceu da adaptação do recortado - assim como baião surgiu da transferência de um motivo da viola de repente para a sanfona de Luiz Gonzaga (igualmente registrada com a música Baião, parceria de Gonzaga com Humberto Teixeira) -, trata-se de uma adaptação originada dentro do próprio gênero, diferentemente do que acontecia com a música "sertaneja", que já havia agregado influências da guarânia paraguaia, da rancheira mexicana e do bolero e ainda seria alterado pelo rock abrasileirado do iê-iê-iê (com o uso de teclados e guitarras), pelo country americano (na Era Reagan, anos 1980), e pelo pop, resultando, já no século 21, no atual sertanejo universitário. Dos pés para o toque de viola, o recortado gerou um ritmo animado, só superado, talvez, pela popularização do chamamé, ritmo originado no Centro-Oeste, com influência da polca paraguaia, e popularizado por Almir Sater. No video, a dupla Tião Carreiro e Pardinho cantam o pagode acompanhado pela catira em cena do filme Sertão em festa (1970).
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