terça-feira, 7 de junho de 2011

Antonio Torres escreveu sobre o circo

A Academia Brasileira de Letras votou na quinta passada o substituto do grande Moacyr Scliar e, para espanto de alguns e confirmação de outros, escolheu-se um jornalista da Globo em vez de Antonio Torres, autor premiado internacionalmente e com uma obra digna do nome, ao contrário do ganhador, que publicou apenas dois livros, um deles criticando o antecessor da atual presidente do país. Neste início de semana, uma enxurrada de artigos com críticas à ABL tornam a polêmica assunto de destaque. O que poucos informam é que o preterido Torres é autor do livro O circo no Brasil (na foto, com o palhaço Torresmo na capa), publicado pela Funarte em 1998. Com o apoio de Alice Viveiros de Castro, pesquisadora de circo e autora do livro O elogio da bobagem, sobre os palhaços brasileiros, o escritor alinhavou as diversas histórias que convergem para a lona estendida em terras brasileiras desde o século XIX, embora artistas mambembes andassem por aqui desde o período colonial. Há algumas falhas nesse esforço pioneiro em contar a história do circo, tarefa a que outros pesquisadores se dedicaram na sequência, entre eles Verônica Tamaoki, Ermínia Silva e Mário Bolognesi, além da própria Alice. Talvez, por isso, Torres escolha o gênero "crônica" para encaixar seu livro na maioria de bibliografias publicadas na internet. Mas se trata de um estudo abrangente, estampado com o ótimo acervo de imagens da mesma Funarte. Embora o grande mérito do autor nordestino esteja em seus romances, O circo no Brasil consta de grande parte das bibliografias dos trabalhos pesquisados na primeira década do século XXI, incluindo os meus. A ABL, preocupada em ter a mídia a seu lado - hiato aberto desde a morte de Roberto Marinho - preferiu o jornalista global (que não é Edney Silvestre, autor do romance Se eu fechar os olhos agora, que ganhou o Prêmio Jabuti no ano passado, após polêmica envolvendo Chico Buarque, com seu Leite derramado). Venceu, assim, o circo eletrônico.

Nenhum comentário: