segunda-feira, 9 de maio de 2011

Uma moda de Angelino de Oliveira

O grande mérito inicial de Angelino de Oliveira foi compor uma toada para ser tocada num grande baile programado para o Clube 24 de maio, de Botucatu, em 1918. O novo presidente do clube queria deixar seu nome na história da cidade promovendo um baile para "marcar época". Bom, se o baile marcou época mesmo, só as gerações mais antigas de Botucatu podem atestar. O que ficou mesmo foi a toada de Angelino: Tristezas do Jeca, assim mesmo, no plural. O sucesso percutiu no interior, sendo abrigado nos repertórios de diversas duplas. Só em 1926 foi gravada com a letra original. Por um carioca, Patrício Teixeira. A versão mais apreciada foi a de 1937, gravada pelo cantor Paraguassu, popular nos cafés do Brás. E, então, vieram Tonico e Tinoco, que deixaram o ritmo de toada de lado e verteram Tristeza do Jeca para uma moda de viola em 1958.
Obviamente Agelino não ficou só nisso. Aliás, antes de compor o hino caipira, já compunha outras modas. A incruziada, por exemplo, foi também gravada por Paraguassu, no selo vermelho de Carnélio Pires na Columbia, mas sob o pseudônimo de Maracajá (recurso encontrado pelo cantor para contribuir com o amigo Cornélio sem quebrar seu contrato com outra gravadora). O mesmo intérprete gravou Cantando o aboio, Lua cheia, Tenha pena dos meus olhos, entre outras. Mas uma moda, em especial, deliciosa pela letra e misteriosa por guardar a dúvida da autoria é a Moda de Botucatu. O violeiro Passoca encontrou-a, aprendeu-a e gravou-a acreditando piamente ser do mestre Angelino. Mesmo assim, perguntou a outro violeiro, Paulo Freire, que passou tempos em Botucatu pesquisando para seu livro Eu nasci naquela serra..., que conta as histórias de Angelino, Raul Torres e Serrinha, três legítimos caipiras de Botucatu. E este não encontrou nada que comprovasse a autoria... Mas segue a letra, para deleite do leitor, com a rima terminada em "aio" permeando todas as estrofes da moda. À guisa de glossário: papagaio é o violeiro que sempre repete as mesmas modas, portanto demonstra pouca destreza com as dez cordas; já gato de três cores, como é espécime raro, é o violeiro bão, que ninguém derruba.


De todos divertimento
conheço também o baraio
conheço a viola e a pinga
prá cantá não faço ensaio
uns dizem que a pinga é da cana
outros "diz" que é do pau d'aio
dizem que a pinga derruba
como é que eu bebo e não caio?

Arrecebi um convite
pras festa do mês de maio
o meu pobre coração
garrou dá gorpe de táio
abri o portão da mangueira
mandei dá mio prô baio
esperando meus colegas
sem eles chegá eu não saio.

Na de Santa Cruz eu fui
na de São João eu não fáio
eu levo meus companhêro
com eles não me atrapaio
eu não canto moda véia
eu não canto rebotáio
choro no braço da viola
que nem tangará no gáio.

Garrêmo pra noite escura
errando pelos atáio
coruja cantava triste
na grama já havia orváio
rojão explodiu pros ares
feito faísca de raio
lá no terrêro da festa
do seu Francisco Sampaio.

Veio chá no cardeirão
e biscoito no balaio
serviu de fortificante
pros peito véio e fracaio
dei um sinal pros colega
deram um balanço no assoáio,
têia da casa caiu
não resistiu o chaquáio.

Quando foi de madrugada ai.. ai...
cantava dois papagaio,
vi um gato de trêis cor
que não dormiu no borraio.
Campeão cantou quatro moda
que aprendeu com nhô Mario
moda de enfrentar violeiro
mas prá nois não deu trabaio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Também norei naquelas bandas...

Na beira do Madalena/
eu já tive muita pena/
do meu vizinho Seo Santo/
que foi(?) lutador e tanto:/
Vindo de Botucatu/
cavalo morreu na estrada/
e ele puxou a carroßa/
numa dor desesperada.

Paulo de Almeida