sábado, 7 de maio de 2011

A maçonaria dos que viram Piolin

Num artigo resgatado postumamente para o livro Um intelectual na linha de frente, de Carlos Augusto Calil e Maria Teresa Machado (1986, Brasiliense), Paulo Emílio Salles Gomes escreve sobre o palhaço Piolin - nome por ele grafado Piolim - na crônica "Vontade de crônica sobre o Circo Piolim solidamente armado à Praça Marechal Deodoro". Conta-se que teria escrito um artigo para a mitológica revista Clima, que na década de 1940 inaugurou a crítica brasileira a partir de textos de Décio de Almeida Prado, Antonio Cândido, entre outros. O artigo teria sido rejeitado e, pior, perdido pelo autor. Na tentativa de resgatá-lo da memória, Paulo Emílio escreveu a crônica. Mas o que interessa aqui, particularmente, é o terceiro parágrafo do texto:

Aviso quase-prévio e de grande importância: não é possível conversar Piolim com quem não viu Piolim. E muito menos ainda se aprende Piolim com leituras. Não adianta. O conjunto de homens, mulheres e crianças que viram e ouviram Piolim formam uma maçonaria. Há uma cumplicidade misteriosa entre as pessoas que viram Piolim, e os não-iniciados são inflexivelmente afastados.

Tal constatação me levou a procurar essa maçonaria para tentar compreender quem foi de fato Piolin. Assim, conheci na sexta-feira o senhor Arthur Miranda, do qual havia lido um depoimento sobre o Circo Piolin no site São Paulo Minha Cidade. Comediante, ator, fotógrafo - me presenteou com o seu Campos do Jordão - Um hino fotografado (Boa Nova Livros, São Paulo, 2007) - atuou em diversas peças de Teatro de Revista e foi parceiro de José Vasconcelos. E faz parte da maçonaria Piolin, pois entre 1947 e 1953 frequentou semanalmente os espetáculos do circo montado na rua General Olímpio da Silveira, local onde foi montado após ter se apresentado na Praça Marechal Deodoro, locais próximos um do outro. Na General Olímpio o circo ficou até 1961, quando foi despejado. De lá, Piolin foi morar em seu trailer camarim, instalado na rua Cajatí, na Freguesia do Ó. Lá morou até morrer, em 1973. Ao perguntar ao senhor Arthur o que o palhaço tinha que os outros de sua época não tinham, ele se emocionou antes de responder que Piolin tinha o "circo na alma" e que isso era visível na sua performance como palhaço. No final do encontro falou do tipo de humor de antigamente e do humor de agora. Lamentou que a simplicidade das piadas antigas tivesse perdido espaço para um humor que quer ser inteligente, usando, para isso, referências que as pessoas que vão rir precisam conhecer. E citou uma piada que criou no momento em que soube a notícia da morte do terrorista Osama Bin Laden: "Se ele pensa que escapou dos americanos agora que morreu, tá enganado, pois o inferno deve estar cheio de americanos!" 

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Cará Pinhé,

se você quiser saber mais sobre Piolim, vá até o MIS-SP. Lá tem uma entrevista que o próprio Paulo Emilio fez com o palhaço.

Cará Pinhé disse...

Eu conheço a entrevista! Obrigado pelo apoio!