terça-feira, 17 de maio de 2011

A última piada de Piolin

Franco Alves Monteiro, o palhaço Xuxu, foi o último parceiro de dupla do palhaço Abelardo Pinto Piolin. Esquecido após perder o terreno em que seu circo ficou instalado por quase trinta anos, do qual foi despejado em 1961, o "Maior palhaço do Brasil" foi resgatado, assim como sua lona, para atuar sob o vão livre do Museu de Arte Moderna (MASP), em 1972. A ocasião era de comemoração dos cinquenta anos da Semana de 22. Como Piolin foi próximo dos intelectuais modernistas, foi convidado a apresentar seu tradicional espetáculo circense sob o MASP, juntamente com Xuxu, então seu parceiro. Aliás, Xuxu (na foto, de Paulo Pepe) não só atuou nos meses em que o projeto durou como continuou atuando nas apresentações programadas para o circo montado no Anhembi. Digo programadas porque foi aí que Piolin adoeceu e, em pouco tempo, morreu. Xuxu conta que cuidou do "seu Abelardo", como o chama, até seus útlimos instantes. Mas, como bom palhaço, tem uma boa história para contar. Lembra de uma senhora, muito idosa, negra, que convivia às turras com Piolin. "Ele me dizia: ela ainda vai me enterrar", conta Xuxu, lembrando que a senhora era bem mais velha que o palhaço. No dia do velório de Piolin, ao lado do caixão do parceiro, numa determinada hora, uma grande movimentação no salão desperta Xuxu de seu estado de consternação. De repente, segurando duas bengalas, a velha negra vai abrindo caminho e se aproximando do caixão. Xuxu não se contém. "Me deu um acesso de riso! Não conseguia segurar! Ela tava lá, enterrando Piolin!"
Isso me faz lembrar de uma história budista. Um monge muito bem-humorado, que fazia a alegria da sua comunidade, se aproximava de seus últimos momentos e passou a pregar que ninguém deveria se entristecer no dia de sua morte. Bom, como isso era pedir o impossível, resolveu tomar suas providências para garantir a alegria de seus pares no dia fatídico. Chamou outro monge de sua confiança e deu instruções expressas. Enfim, o dia chegou e a pira estava montada no centro do mosteiro para a cremação do monge. Acendido o fogo, todos consternados e... de repente, começa uma série de explosões... e todos caem na gargalhada! O monge havia pedido ao seu confidente que amarrasse fogos de artifício ao seu corpo. E assim garantiu sua última piada!

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