
Texto complexo, com estrutura que exige um elenco de fôlego, toda em versos e com canções que entrecortam as cenas, O mártir do Calvário é um dos maiores desafios cênicos vencidos pelos circos e o sonho de todo circense é voltar a encená-la, pois ele guarda na alma os versos decorados para as apresentações. Merece capítulo à parte na história das companhias circenses e, em especial, o número de casos engraçados que as encenações geraram, como esta de Arrelia, valeria até uma coletânea em livro. Houve o caso, por exemplo, da Maria Madalena que foi beijar os pés do Cristo crucificado quando parte do elenco havia passado no apoio de madeira onde estavam os pés, uma pasta de queijo gorgonzola. Ao sentir o cheiro, a atriz que fazia a Madalena, levantou-se com raiva, acusando o marido - que era o Cristo - de porco! Ou histórias de atores que saem de cena com as vestes do Filho de Deus e, esquecendo-se disso, envolvem-se em confusões, adotando posturas bem pouco cristãs...
Já que começamos com Arrelia, terminemos com ele. Seu filho, Junior, contou, na entrevista que fiz para a minha pesquisa de doutorado, que numa ocasião, seu pai, fazendo Pilatos, entrou solenemente em cena, acompanhado de outros romanos. A cena anterior havia sido a da última ceia e os "casacas de ferro", os que mudam o cenário, haviam retirado o tampo da mesa da ceia e deixado dois cavaletes que serviam de apoio. Pilatos entrou, olhou para aquilo e não se conteve - afinal, se tratava de Arrelia, mesmo sem a pintura de rosto: "Ué? Jesus vai participar de uma corrida de obstáculos?"
PS - Na foto, a encenação de O mártir do Calvário pelo Circo François.
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