quinta-feira, 14 de abril de 2011

Renato Teixeira e o mar

Dias desses, deparei com esta mensagem do Renato Teixeira no Facebook:
Amanhã cantarei em Santos, onde nasci! Minha cidade é bela e tem sotaque próprio! Nos faltou, entretanto, um Jorge Amado e um Dorival Caimy que contassem pra todos a grande energia que sai desse chão e a beleza eterna desse mar onde navegou meu avô Theodorico de Oliveira! Meu pai menino estudou no Instituto de Pesca e assim, marinheiro, chegou a Ubatuba onde conheceu Jacy, minha Mãe!
Vi na mensagem um desafio. Pensei logo em Valdomiro Silveira, pai de Miroel (este ator, autor e pesquisador de teatro, que dá nome ao Arquivo de censura que está na ECA/USP, fonte de minhas pesquisas). Escritor que inaugura o regionalismo em 1920, com Os caboclos, e que passa a viver em Santos em 1902, onde fica até sua morte, em 1941. Pelo que estava ao alcance da minha mão, nada encontrei. Mas me deparei com um conto de Vicente de Carvalho, este sim filho genuíno de Santos (1866-1924), intitulado Selvagem, do livro Páginas soltas (1911). Nele, a história de uma fatalidade que envolve Serafim, que retorna ao Canal de Bertioga após cinco anos, quando fora levado por quatro soldados, obrigado a servir na Guerra do Paraguai. De volta, vai procurar Teresa, a noiva deixada na praia, quando, no meio do caminho encontra dois homens brigando, um deles conhecido, que acaba matando o outro esfaqueado. Serafim decide esconder o corpo, mas conta no vilarejo que havia encontrado o morto. Ao descobrirem que é Anselmo, os moradores decidem prender Serafim como o assassino. A vítima era o marido de Teresa. Ao saber do fato, Serafim assume o crime, concluindo que, se não fosse o homem que viu fugir, certamente seria ele mesmo quem mataria Anselmo. O trágico conto se passa numa vila de pescadores, e o mar aparece em rápidas descrições, como quando Serafim vê, do alto do morro, sua vila natal, após tantos anos de distância: "Fôra assim, esmagado e tonto, por todo o pedaço de várzea semeada de casas. Ao chegarem, ele e a escolta, ao alto do morro, vinha amanhecendo. Do mar largo subia pelo céu aquele desdobramento de ouro que vem logo adiante do sol. Na claridade em que o lusco-fusco se adelgaçava, tudo parecia como através de uma gaze cor-de-rosa." Prosa parnasiana, assim como seus poemas, que lhe renderam a alcunha de "Poeta do mar". Bem distante do realismo de Jorge Amado e da poesia sintética de Caymmi...Enfim, a história de amor do encontro dos pais de Renato Teixeira já é, em si, um belo poema...

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