segunda-feira, 4 de abril de 2011

Renato Andrade e o curioso

A ideia e a vontade de pesquisar o universo da viola me veio depois de assistir a um show do violeiro Passoca, lá por meados da década de 1990, quando ele lançava o CD Breve história da música caipira. Consequência natural, a motivação para fazer uma certa "amarração" entre o que já havia sido escrito sobre o tema veio logo. Depois, já em 2000, um curso de especialização na ECA/USP me deu uma metodologia para organizar tudo e, de quebra, me viciou em pesquisa sobre as manifestações da cultura popular. Bom, depois do show de Passoca, frequentei outros vários, entre eles o de Ivan Vilela, grande violeiro e professor da USP, e, em especial do grande Renato Andrade. Essa figura ímpar, que morreu em 2005 em Belo Horizonte. Mineiro de Abaeté, dominou as dez cordas da viola de uma forma tão plena que eram primorosas as suas apresentações, sempre recheadas com causos contados com sua voz matreira, como se requer a um bom mineiro. Dizia ter ameaçado fazer o pacto com o demônio para tocar bem e tirado vantagem, enganando-o! Sua interpretação virtuosística incluía até tirar som da viola tocando em suas costas, no fundo de madeira...
Após o show, dividido com Paulo Freire, estava na entrada do Sesc Ipiranga conversando com este último violeiro quando chegou Renato, devagar, e foi ouvindo a conversa. Eu dizia ao Paulo que estava disposto a escrever a história da música caipira e que sabia que isso me consumiria um bom tempo - alguns anos depois fui até sua casa, em Campinas, para entrevistá-lo para a pesquisa. Quando viu uma brecha, Renato se aproximou e disse, com sua voz mineira: "Olha, tudo começou com os Três Batutas do Sertão. Era uma maravilha ouvi-los no rádio. Torres, Florêncio e Rielli. Começa por aí." Hoje o conselho soa bem básico a um curioso que, na época, ainda começava a tentar entender a música caipira (hoje continuo tentanto!). Mas o conselho precisava ser dado por ele, Renato Andrade!
No video, o violeiro interpreta o Relógio da fazenda, solo em que demonstra o seu virtuosismo. Renato deixou poucos registros gravados, entre eles o primeiro, A fantástica viola de Renato Andrade (1977), além de participar do CD Violeiros do Brasil, projeto que reuniu diversos tocadores em shows, disco e DVD, capitaneados pela Mirian Taubkin.


Um comentário:

Anônimo disse...

Só completando o que meu amigo Walter já dissera, Renato Andrade também gravou o trabalho Enfia a viola no saco, e recentemente sairam dois CDs da coletânea 80 anos de música sertaneja. Entre músicas que aconselho o leitor conhecer estão: Ponteado Caipira, Siriema no Campo, Casebre, Mané Pelado, A sinhá e o diabo, O tempo e o vento, Matranga, Urupês, Cerrados. Vale dizer que a citação náo desmerece as outras, é apenas para aguçar a curisidade do leitor que escutando essas se tornará ávido ouvinte de Renato Andrade.