1997 e o Sesc Pompéia recebia o projeto de Myrian Taubkin, Violeiros do Brasil. Ainda gestando a ideia do livro Moda Inviolada, que sairia quase uma década depois, fui conhecer de perto Pereira da Viola - que na época usava cabelo rastafari - Adelmo Arcoverde, Renato Andrade, Passoca, entre outros, além de uma figura que, ao chegar na área do teatro, foi recebido com palmas e alegria: Zé Coco do Riachão. Violeiro e rabequeiro autodidata, cresceu participando das Folias de Reis do Norte de Minas Gerais. Foi descoberto aos 65 anos, dono de uma musicalidade absurda e, além de tudo, um artesão, pois tocava os instrumentos que ele mesmo fazia. Logo, seus instrumentos viraram troféus nas mãos dos colecionadores e instrumentistas. Na época eu estava com o hoje crítico teatral e à época repórter da TV Unicsul, Valmir Santos. Tínhamos trabalhado juntos na extinta revista Manchete, na sucursal de São Paulo e, após a desventura dos Bloch, chegamos a articular algumas ideias com relação ao livro. Foi o Valmir quem me convidou para ver o show. Acompanhei as entrevistas e, no instante em que o velhinho Zé Coco chegou, alguém nos disse que ele era chamado pela crítica de "Beethoven do Sertão". Claro que esse "título" advinha de seu virtuosismo autodidata, similar ao do mestre erudito alemão. No entanto, quando Valmir o entrevistava, o violeiro respondendo com sua voz baixinha, sotaque de matuto mineiro, numa certa altura, resolveu arriscar e perguntar: "O que o senhor acha de ser chamado de Beethoven do Sertão?" Depois de fazer por alguns segundos uma expressão de confuso, ele respondeu,confirmando, de forma inesperada, a fama atribuída pela crítica:
- Hein?
P.S. - Zé Coco do Riachão gravou somente três discos: Brasil Puro (1980), Zé Coco do Riachão (1981) e Vôo das garças (1987), todos raridades, além de participar da coletânea Violeiros do Brasil (1998).
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