
Suas recordações estavam em Napoleão, quando Lauro chegou à praça onde zumbia o circo. Reviu a clássica barraca iluminada por dentro, deixando ver, desenhada no pano, a silhueta dos espectadores repimpados nos bancos de cima. Em redor, tabuleiros com lanternas dubias a alumiarem as cocadinhas queimadas, os pés-de-moleques, os bom-bocados; as mulatas gordas ao pé, vendendo; os baús de pastéis, cestas de amendoim torrado, balaios de pinhão cozido. E, grulhantes em torno, os pés-rapados de bolso vazio, que namoram as cocadas, engulindo em seco, e admiram com respeito os "peitudos" que chegam à bilheteria e malham na tábua um punhado de níqueis, pedindo com entorno:
- Uma geral!
O encanto de tudo aquilo, porém, estava morto, tanto é certo que a beleza das coisas não reside nelas senão na gente."
(O conto Cavalinhos é de 1900, quando o autor ainda não havia publicado nem se notabilizado pelas duas cartas que enviou ao jornal O Estado de S. Paulo denunciando o "piolho da terra", depois chamado Jeca Tatu. O conto da juventude de Lobato tinha por subtítulo: "Fragmento de um romance gorado". Lauro reencontra a sua criança sob a lona do circo: o que foi e o que revisitava.Para então concluir que a beleza das coisas não reside nelas senão na gente. Além de ser um importante registro do circo em sua fase mais áurea, é também um conto que ressoa em seu desfecho a mais fina literatura.)
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